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Eunice Lourenço
Opinião de Eunice Lourenço
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Opinião

A medida do sucesso de Rui Rio

09 fev, 2020 • Eunice Lourenço • Opinião de Eunice Lourenço


A recuperação das câmaras municipais perdidas foi a meta eleitoral definida por Rui Rio. Mas a verdadeira medida do seu sucesso será a convivência democrática.

Logo no início do seu primeiro mandato como presidente do PSD, Rui Rio definiu as eleições autárquicas de 2021 como a momento chave de avaliação da sua liderança. Deixou claro que o seu objetivo não era ganhar as legislativas de 2019, até porque achava que não tinha tempo para isso, mas sim recuperar o PSD para as autárquicas de 2021.

Não ganhou as legislativas, perdeu votos e deputados, já depois de ter uma derrota nas europeias, mas manteve-se firme no seu posto, foi reeleito e continua de olhos postos em outubro de 2021. E, no início deste 38º Congresso, que decorre este fim-de-semana em Viana do Castelo, definiu a meta para essas eleições.

“Temos, em 2021, de recuperar o terreno perdido em 2013 e em 2017. Recuperar presidentes de câmara, mas também vereadores e eleitores de freguesia”, disse Rui Rio no seu discurso de abertura do Congresso, já depois de ter eleito as eleições autárquicas como o principal momento para medir a força do partido.

“A implantação de uma força partidária mede-se, em primeiro lugar, pela dimensão da sua presença nas autarquias locais. Mais do que o número de deputados que consegue eleger para a Assembleia da República, é o número de autarcas eleitos que, do ponto de vista estrutural, mede a verdadeira força de um partido na sociedade”, defendeu Rio.

Ora, o PSD tem atualmente a presidência de 98 câmaras municipais. Depois das autárquicas de 2009, tinha 138. Há, portanto, 40 câmaras a recuperar, mas Rio apontou já uma escapatória para o caso de não ser possível recuperar as câmaras perdidas: naquelas em que não foi possível, pelos menos que aumentem o número de vereadores e deputados municipais.

A meta é difícil, reconhece o presidente dos autarcas sociais-democratas, que também é claro nos erros que levaram às derrotas de 2013 e 2017: guerras internas e más escolhas.

Contra isso, o PSD supostamente iria sair de Viana do Castelo unido, pacificado e mobilizado. Era essa a promessa deixada por vencedores e vencidos depois das duas voltas das diretas. Era a promessa do primeiro dia de congresso, que o segundo dia desmentiu.

O discurso de Luís Montenegro, o candidato derrotado na segunda volta, que se julga dono dos 47 por cento que teve, mostrou um partido dividido e ferido, não como um ferido em convalescença, mas como um animal ferido que reage ao toque em autodefesa. Montenegro começou por fazer um discurso de pretenso líder da oposição, com considerações sobre o estado do país. Mas também quis colocar uma linha vermelha a Rui Rio: o PSD não pode ser “tábua de salvação” de António Costa se a geringonça falhar.

Alguns congressistas começaram a impacientar-se, Paulo Mota Pinto, presidente do Congresso, avisou-o várias vezes que o tempo tinha acabado. Montenegro ainda condenou os “fanatismos” e defendeu que o PSD “precisa respirar mais liberdade”, mas acabou o discurso a prometer que não se calará, com os aplausos a tentarem calar os assobios.

Salvador Malheiro, alguns congressistas depois, mostrou bem como a direção de Rui Rio não perdoa e não está disponível para abraçar já o adversário, apesar do cumprimento trocado entre Montenegro e o presidente do partido.

Condenou os que “criticaram Rio pelo mero prazer da crítica e fazer dano”, acusou-os de terem causado perdas eleitorais ao partido. “E dizem agora que não têm culpa”, acusou este vice-presidente do partido, para quem “os militantes perceberam isso e, por isso, renovaram a confiança em Rui Rio”.

“O partido precisa de lealdade”, disse Malheiro, que ouviu pouco tempo depois José Eduardo Martins, apoiante de Pinto Luz, responder que “lealdade é vir aqui dizer olhos nos olhos” o que cada um pensa, “não é abanar a cabeça e dizer sim”.

Unir sem vingar, congregar em vez de retaliar, mobilizar os muitos que neste congresso se mostraram disponíveis para os combates autárquicos, esses sim são os desafios de Rui Rio, que terá na forma como lida com a diferença a grande medida do seu sucesso. Ou, como lhe disse Miguel Pinto Luz, seu adversário derrotado logo na primeira volta: “Não tenha medo da diferença, abrace-a, porque é um grande ativo. A nossa diversidade é a nossa maior riqueza.”

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  • Jeronimo Castro
    13 fev, 2020 15:34
    Nunca votei no PSD e talvez seja suspeito mas penso que o partido precisa de alguém, novo ou velho, desligado de compromissos com os donos do partido, com ideias novas, concretas e coerentes que consiga discutir o centro com o PS e obrigá-lo a encostar aos partidos da esquerda, como não acredito que conquiste o centro nem pode ser empurrado para a direita, seria preferivel que PSD e PSD se entendessem e fizessem a fusão dois partidos. É uma aventura para alguém com muita capacidade de diálogo, e dureza para limpar o PSD e obrigaria também à limpeza do PS. Por curiosidade, estou a ler o que na minha opinião seria a medida de sucesso de Rui Rio apesar de ter feito um jogo de avançar para recuar, se conseguisse entendimento para fazer a reforma alargada da Justiça sem paninhos quentes eu, por exemplo voto nele, poderia com isto força para reformar a educação, saude e todo o país que está sem pontas por onde se lhe pegue. Mas esta medida é um sonho de mais avanços e recuos, porque na politica não há milagres mas sim interesses.
  • Cidadao
    09 fev, 2020 Lisboa 17:07
    Montenegro nem pensar e Pinto Luz promete, mas terá de se ver mais à frente se realmente tem "substrato". Agora Rui Rio, conhecido como "o parolo do Norte", dificilmente será homem para o lugar. É muito de joguinhos táticos, muito de teatrinhos, muito de espinha-de-borracha, avanços e recuos. Foi assim no caso dos professores onde prometeu e recuou, e voltou a sê-lo agora e da mesma maneira. Não conquista confiança. O que diz hoje, já não vale amanhã e depois vem com camadas sucessivas de retórica a (tentar) explicar porque roeu a corda. Está demasiado disponível para se entender com Costa e o PS, aliás, parece contentar-se mais com ser o "vice" de qualquer coisa, do que lutar por ser o numero 1. Não é o homem que o PSD e o País precisa.