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Entrevista a Luís Pessoa, investigador do INESC TEC

Sucessor do 5G nas comunicações móveis já está a ser construído. O que vai mudar?

15 fev, 2023 • Pedro Mesquita


Em entrevista à Renascença, Luís Pessoa, investigador do INESC TEC do Porto, antecipa-nos o futuro, à distancia de uma década.

O sucessor do 5G nas comunicações móveis já está a ser construído e quer dar gás à economia. As redes 5G ainda não chegam a todos, mas já há quem esteja a fortalecer a malha das comunicações para a nova geração de comunicações móveis, que chegará dentro de oito ou 10 anos.

O 6G já está a ganhar forma e há investigadores portugueses do INESC TEC - Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência envolvidos no projeto.

Com financiamento da Comissão Europeia - 6,3 milhões de euros - o "TERRAMETA" reúne 12 parceiros europeus e pretende desenvolver tecnologias inovadoras para o 6G e ajudar no processo de transição digital do ecossistema empresarial, em particular na indústria.

Em entrevista à Renascença, Luís Pessoa, investigador do INESC TEC do Porto, antecipa-nos o futuro, à distancia de uma década; e o que se deve esperar do projeto TERRAMETA. Em caso de sucesso, serão muitas as vantagens para a indústria e para a economia. Mas, claro, há sempre um "mas". Há um preço a pagar: O desenvolvimento tecnológico deixa-nos cada vez mais expostos e vigiados.

Que investigação é esta? Como é que o 6G pode ser útil para a indústria?

Nós estamos a desenvolver aspetos relacionados com a propagação das ondas eletromagnéticas, que esta de rede comunicações irá usar. Posso dar o exemplo de uma fábrica, com a sua linha de produção: A fábrica pretende controlar tudo o que está a acontecer no chão de fábrica. Onde estão as pessoas? Por onde andam os robôs?

Com o 6G, os dados de comunicações - os sinais que nos permitem hoje falar ao telemóvel, por WhatsApp ou receber uma videochamada - vão permitir-nos saber o que está a acontecer, por exemplo, no contexto de uma fábrica. Não é um vídeo mas é, digamos, um conjunto de pontos com alta definição, equivalentes quase a uma imagem. Isso vai permitir-nos saber se uma pessoa está em determinado local, ou se um robot vai agora passar no ponto A, ou no ponto B.

Isso irá representar um salto tecnológico brutal, para a indústria só que, ao mesmo tempo, vamos estar ainda mais vigiados.

Sim, concordo que sim. Por outro lado, também existe um argumento que contraria essa ideia de estarmos vigiados. É que no 6G falamos de ondas eletromagnéticas - radiofrequência - sem capacidade de nos permitir ver, como vê uma câmara de vídeo. Com os sinais de 6G, embora se consiga, por exemplo, perceber que aquilo é uma pessoa, ou perceber que essa pessoa está a fazer uma determinada ação, não nos permitem identificar essa pessoa, porque não tem definição. O que eu tenho é um conjunto de pontos, e não a face da pessoa.

Ou seja. Na prática não me pode ver a face, mas o meu patrão vai conseguir saber se eu estou sentado a trabalhar, ou não?

Completamente. Sim, sim. Mas isto, digamos, pelo benefício que irá gerar a digitalização dos processos de negócio, não é? Cada vez controlarmos melhor o que está a acontecer.

E também temos que ver o lado positivo, tudo o que seja a antecipar eventuais problemas, antecipar que vai haver uma colisão entre dois veículos, por exemplo. Portanto, a mais-valia dessa digitalização também é para o benefício da sociedade, da economia, etc.

Também na indústria automóvel, tentando perceber se existe o risco a ocorrência de uma colisão, por exemplo, entre entre os dois veículos?

Sim sim. Na indústria automóvel há várias aplicações. Podemos estar a falar de sensorização dentro de um veículo ou sensorização do exterior de um veículo. Quando sensorizamos o interior de um veículo, se for através da tecnologias 6G, podemos estar a perceber o que é que está a acontecer no automóvel. Mas atenção, há aí limitações relativamente às câmaras do vídeo, que têm capacidade de reconhecer faces, emoções. O 6G não permite isso.

Este é um estudo a quase uma década de distância?

O nosso trabalho, no âmbito deste projeto, é a três anos. Agora, o quadro de financiamento europeu que está a propor isto, e a dar força a este impulso para o 6G, a nível europeu, é um quadro, salvo erro, a oito anos.

Está a dizer-me, com isso, que só daqui a uma década é que teremos o 6G.

Sim. Muito provavelmente estamos teremos o 6G por volta de 2030, no melhor dos casos.

O 6G terá uma vertente mais industrial?

Vertente industrial e de negócio, sim. Irá, sobretudo beneficiar a economia. Na vertente do consumidor pode haver algum impacto, admito que sim, mas não será o seu principal "driver".

Não digo que não venha a existir uma componente do desenvolvimento, em relação às chamadas "SmartHomes", por exemplo, que possam beneficiar igualmente o utilizador, não é? Quando estamos dentro das nossas casas, por exemplo, um caso de uso que pode ter beneficio para o consumidor é o sinal telemóvel.

Agora, se calhar, esse sinal não consegue chegar com qualidade à sua casa mas, através de antenas inteligentes que sejam colocadas nas janelas e, depois, nas paredes, etc...Quando isso existir a pessoa põe uma coisa na janela, que é transparente, e passa a ter o sinal de comunicações muito melhor dentro de casa. Isto é, apenas, o exemplo de um possível benefício para um utilizador final.

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