18 abr, 2023 • Pedro Mesquita
Os produtores portugueses não estão preocupados nem estão a ser afetados pela especulação com cereais vindos da Ucrânia.
A decisão da Comissão Europeia de liberalizar o comércio de cereais, e outros bens alimentares, provenientes da Ucrânia, está a dividir os Estados-membros. Alguns até já decidiram romper o acordo.
O que é que se passa? Países como a Polónia, Hungria e a Eslováquia - e agora também a Bulgária e a Roménia - queixam-se de estar a perder muito dinheiro, nas suas produções, por causa da inundação do mercado pelos cereais que estão a ser importados da vizinha Ucrânia.
Querem, por isso, romper o acordo da União Europeia que liberaliza o comércio de cereais provenientes da Ucrânia.
Estes três Estados-membros até já notificaram Bruxelas da sua intenção. Pretendem proibir temporariamente a importação ou, pelo menos, repor as quotas e tarifas aplicadas antes da guerra à importação de produtos agrícolas ucranianos e assim mitigar o impacto nos preços.
Já a Comissão Europeia, em comunicado, avisa que a política comercial é da competência exclusiva da União e classifica de inaceitáveis ações unilaterais.
E os produtores de cereais portugueses também estão preocupados? Nem por isso. José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtor de Cereais (ANPOC), diz à Renascença que o impacto económico para o nosso país é mínimo, porque produzimos pouco e o trigo que importamos para a indústria panificadora chega, sobretudo, de França.
Quanto às queixas dos países vizinhos da Ucrânia, José Palha diz que a culpa é dos especuladores.
Os produtores de cereais em Portugal também estão preocupados com a importação de cereais ucranianos?
Portugal importa cerca de 92% dos cereais que consome, e os cereais produzidos o ano passado, que foram colhidos no Verão de 2022, terão sido vendidos nessa altura, os negócios terão sido feitos nessa altura. O que quero dizer é que, em termos de impacto económico desta especulação, e de tudo isto que está a acontecer agora nesses países que fazem fronteira com a Ucrânia, não terá um impacto direto para os agricultores portugueses.
Só que, entretanto, o que está a acontecer é que existe uma bolsa que cota os cereais, e estes movimentos especulativos provocam imediatamente essas variações.
Polónia, Hungria, Eslováquia, Bulgária e Roménia queixam-se que a “inundação” do mercado com cereais ucranianos tem impacto direto nos preços e está a dar-lhes grande prejuízo. O Sr. fala em especulação. Porquê?
Nesses países, que fazem fronteira com a Ucrânia, as informações que nós temos é que haverá especuladores mesmo, que estão nas zonas fronteiriças a alugar armazéns. Alguns até estarão a construir silos e importar cereais da Ucrânia, que agora não têm taxas aduaneiras nenhumas.
A Ucrânia está nas condições em que nós sabemos e os agricultores ucranianos, no fundo, precisam de realizar capital e estão a vender esses cereais a preços mais baixos.
Esses especuladores estão a inundar os mercados fronteiriços com cereal a preço mais baixo, o que faz com que os nossos colegas agricultores dessas regiões tenham muito maior dificuldade em vender o seu próprio produto ao preço, que seria o preço normal de mercado.
O que me está a dizer, basicamente, é que a culpa não é tanto da quantidade de cereais que entram na União Europeia vindos da Ucrânia, mas da ação dos tais especuladores?
Exatamente, e que está a ter um impacto especialmente naqueles países de fronteira. Para os outros países, mais a sul, não terá impacto nenhum, até porque Portugal, a esmagadora maioria do trigo que importa para panificação, vem de França. Nem sequer vem dessas regiões.