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IRATXE GARCIA

​Euranet Summit

Iratxe Garcia Perez: Precisamos de “cada vez mais Europa”

18 dez, 2024 • Pedro Caeiro com Joanna Neville (EuranetPlus)


No segundo Euranet Summit de 2024, falamos com Iratxe García Pérez, eurodeputada do PSOE, o Partido Socialista Operário Espanhol, que é presidente do grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu. O grupo é composto pelos membros do Partido Socialista Europeu e outros membros, independentes, mas programaticamente relacionados com a social-democracia.

Na semana passada, García Pérez fez a sua primeira viagem oficial depois de ter sido reeleita presidente do grupo Social-Democrata Europeu no Verão. A primeira deslocação foi a Kiev, para sublinhar o empenho do seu grupo em apoiar a Ucrânia na prolongada campanha contra a incursão russa. Iratxe García Pérez explica, numa frase, por que é que esta viagem foi tão importante para ela: “A Europa está com a Ucrânia, porque precisamos de defender juntos a nossa dignidade, o nosso território e os nossos valores comuns.”

Neste debate com jornalistas de várias rádios da Europa, esta eurodeputada reconheceu que há uma “tendência preocupante” quando se assiste a cortes no financiamento dos meios de comunicação públicos e se nota que a independência destes começa a estar minada em vários países governados por partidos populistas.

É algo que contraria os princípios da lei europeia sobre a liberdade dos meios de comunicação social e é particularmente preocupante dado que, ao mesmo tempo, a Rússia está alegadamente a aumentar o seu financiamento para os meios de comunicação social.

Neste contexto, perguntamos a Iratxe García Pérez como podemos esperar vencer a luta contra a desinformação. E, uma vez que estamos dispostos a gastar mais dinheiro em armamento para a Ucrânia, se não deveríamos também prestar apoio financeiro aos meios de comunicação independentes: “Se queremos defender a Ucrânia, temos de o fazer a partir de diferentes perspectivas: apoio financeiro, apoio militar, apoio humanitário e apoio à reconstrução. Isto é muito claro e insistimos na importância de aumentar o orçamento para a Defesa. Mas, ao mesmo tempo, o nosso grupo, dos socialistas e social-democratas, tem tornado bem claro que aumentar o orçamento da Defesa não pode significar uma redução do orçamento para outras políticas importantes como a dos meios de comunicação públicos, ou outras políticas tradicionais como a de coesão, a da agricultura, a digital ou a ambiental”.

De resto, sobre este tema da desinformação, o jornalista romeno presente neste debate lembrou que, na Roménia e noutras partes da Europa, os partidos de extrema-direita e pró-Rússia ganharam muitos votos nas últimas eleições. Muitas pessoas responsabilizam os partidos tradicionais por isto… não só por não travarem uma luta suficientemente robusta contra a desinformação, mas também por não abordarem as preocupações reais e quotidianas dos cidadãos.

Mas que responsabilidade estão os socialistas e sociais-democratas europeus dispostos a assumir? “É claro que as forças políticas tradicionais têm sempre uma responsabilidade. Compreendo que temos uma responsabilidade e que precisamos de fazer algo melhor. E é esse o nosso trabalho: melhorar a vida das pessoas. Mas, ao mesmo tempo, não podemos ignorar que outros estão a tentar destruir tudo o que as forças políticas tradicionais fizeram no passado. Podia ser melhor? Claro. Podia ser sempre melhor… Mas é importante travar a interferência, impedir aqueles que querem estar na política de destruir os valores europeus”, afirma.

Põe-se então a pergunta: o que pode a socialista espanhola Iratxe García Pérez e os seus colegas mais ao centro fazer para ajudar a inverter esta tendência?

“Sabemos que a extrema-direita tem mais poder quando a desigualdade é uma realidade nas nossas sociedades. E, por isso, é importante haver este tipo de debate sobre os recursos, sobre a política social. O pilar dos direitos sociais é essencial. E o que não podemos fazer é gastar mais dinheiro em armas, reduzindo o financiamento da política social. Esta é a nossa posição enquanto grupo. Queremos aumentar a dimensão social, reforçar as políticas sociais… Precisamos de aumentar a nossa estratégia nas áreas da indústria e da economia para melhorar a nossa competitividade. Mas não podemos fazê-lo reduzindo os direitos sociais, reduzindo os direitos dos trabalhadores”, avisa a eurodeputada.

Então como se pode garantir que o progresso económico anda de mãos dadas com a justiça social, a igualdade e a solidariedade?

“Temos de continuar a trabalhar, por exemplo, com uma directiva sobre o rendimento mínimo, isto é algo importante. Precisamos de continuar a trabalhar no pilar dos direitos sociais. É essencial – é um elemento-chave, para nós – discutir o investimento na União Europeia. Precisamos de investir, precisamos de investir mais e melhor, e precisamos de mais recursos.”

Na verdade, quanto mais desafios existem, mais dinheiro é necessário, insiste García Pérez, e a União Europeia precisa de encontrar formas de aumentar os seus chamados “recursos próprios”.

“Precisamos de recursos para apoiar quem tem mais necessidades. E quem tem mais precisa de pôr mais em cima da mesa e redistribuir”, alerta.

Para se fazer um balanço dos últimos meses, é preciso reconhecer que 2024 não foi um grande ano para os sociais-democratas, com muitas das chamadas “linhas vermelhas” que o grupo estabeleceu para aprovar a nova Comissão Europeia a acabarem por ter de ser ultrapassadas para se chegar a um acordo. Isto já para não falar na viragem geral à Direita na política europeia que não correu como os socialistas e social-democratas desejariam.

Contra factos, a espanhola argumenta que “precisamos de construir maiorias pró-europeias. E só o podemos fazer se houver cooperação entre o PPE, os Liberais, os Verdes e nós. E esta será a nossa estratégia enquanto grupo: incluir todos estes grupos nas negociações dos futuros dossiers, para tentar ter uma posição comum.”

Já sobre aqueles que acusam o PPE, pró-europeu de centro-direita de Ursula von der Leyen, de andar a “piscar o olho” à extrema-direita, García Pérez não esconde que os socialistas e sociais-democratas não ficaram lá muito satisfeitos com grande parte do processo de aprovação da nova Comissão. Sobretudo com a decisão de atribuir a um membro do grupo ultraconservador e reformista ECR uma vice-presidência executiva. Mas, diz a eurodeputada do PSOE, agora é tempo de se unirem, mas sempre dentro de parâmetros razoáveis.

“Estamos num momento muito difícil para a União Europeia. Em todo o mundo, a situação geopolítica é muito difícil. Precisamos de estabilidade. Precisamos de um Governo, de um verdadeiro Governo Europeu. E é por isso que apoiamos esta Comissão Europeia. Mas não é um cheque em branco. É mais importante do que nunca trabalhar com unidade, mas apenas com as forças políticas pró-europeias. Não podemos negociar, não podemos trabalhar com aqueles que querem destruir o projeto europeu e os valores europeus”.

Quererá isto dizer que a socialista está preocupada com a hipótese de o PPE de Von der Leyen vir a forjar alianças com a extrema-direita apesar do acordo com o grupo político a que pertence? “Vamos começar, agora, a trabalhar com o novo colégio de comissários, com as novas propostas: propostas legislativas, resoluções políticas. E estamos abertos, claro, a trabalhar com o PPE – não podemos fazê-lo sozinhos. O PPE tem de estar ao lado dos pró-europeus, mas o PPE não pode tentar jogar este jogo duplo. E isso é algo que vamos deixar bem claro, nos nossos próximos passos, durante as diferentes negociações”, garante Iratxe García Perez.

As diferentes negociações a que se refere a Presidente do Grupo Socialistas e Democratas surgem num contexto geopolítico complexo – com duas guerras à porta da Europa, uma guerra comercial com a China, a chegada iminente de Trump à Casa Branca e muitos europeus estão, na verdade, a lutar para simplesmente viver. Perguntamos, por isso, a García Pérez o que pode a Europa fazer para contrariar a crescente insatisfação daqueles que procuram respostas locais simples para problemas que são, pelo menos em parte, complexos e globais. A resposta da espanhola é: “Defendam mais do que nunca o projeto europeu! Defendam mais do que nunca tudo o que nos uniu e tudo o que nos fez progredir… Não retrocedam… não voltem atrás nos passos que demos para construir a Europa!”

García Pérez reconhece que há um caminho a percorrer, mas acredita firmemente que a União Europeia tem um papel positivo e construtivo a desempenhar no panorama global: “A Europa precisa de modernizar a sua economia, tem de modernizar a sua indústria. Mas tem de o fazer a partir de uma posição de respeito pelo nosso ambiente e pelo nosso planeta, e deve assumir a liderança internacional na luta contra as alterações climáticas”.

Mais do que tudo, diz, a Europa pode e deve servir de padrão global para a democracia e a sustentabilidade: “A Europa é um farol para muitos que acreditam na democracia, que acreditam no Estado de direito e que acreditam num desenvolvimento mais justo e mais amigo do ambiente.”


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