24 jan, 2023 • Sandra Afonso
A remuneração dos certificados de aforro já ultrapassa os 3%, mas vai acabar por parar.
Há quem espere horas nas agências dos CTT para subscrever certificados de aforro, um dos produtos de poupança do Estado, que regista uma procura histórica.
O motivo são os juros associados, que na série E, a que está em subscrição, chegaram em janeiro a 3,088%, mas está previsto um limite. Entenda o que está em causa com este Explicador Renascença.
O retorno não vai além dos 3,5%, que é o limite previsto para estes produtos.
Tendo em conta o que tem sido a evolução das taxas de juro, no primeiro semestre deverá ser atingido o retorno máximo neste produto de poupança.
Entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023 a remuneração dos certificados de aforro passou de 0,41% para 3,09%. Ou seja, aumentou mais de sete vezes.
São fixados mensalmente, tendo por base a média da Euribor a três meses, nos últimos dez dias, a que se soma um prémio de 1%.
Durante mais de 7 anos a Euribor a 3 meses esteve negativa, o que afastou muitos aforradores destes certificados. Agora é o produto de poupança do Estado com mais procura e um dos mais rentáveis, na categoria dos menos arriscados.
Porque a base de cálculo dos juros é diferente. Nos certificados do tesouro, o retorno está associado ao crescimento da economia, ou seja, ao Produto Interno Bruto.
Contas feitas, a remuneração líquida destes certificados está abaixo de 1%.
Aqui não existe nenhum mecanismo automático, de acompanhamento das decisões do Banco Central Europeu. A remuneração dos depósitos, ou do dinheiro dos clientes, é uma decisão exclusiva de cada banco.
O governador do Banco de Portugal tem deixado vários recados aos banqueiros, para que remunerem os depósitos, mas não é ouvido.
Em entrevista à RR, Mário Centeno admitiu que não tem capacidade de intervenção nesta matéria, não pode ir além das recomendações.
Nesta altura, o dinheiro parado na conta é onde rende menos. Os juros médios não chegam a meio %.
Segundo o supervisor, os juros médios aplicados aos novos depósitos passaram de 0,05% em setembro, para 0,35% em novembro.
Com a pandemia, a economia viveu uma longa paragem, em que as famílias e empresas acumularam poupanças, sobretudo nos cofres dos bancos. Foram atingidos máximos históricos nos depósitos e as instituições financeiras acumularam liquidez.
A guerra na Ucrânia e a inflação vieram travar a recuperação, o que prolongou esta situação de liquidez.
Os bancos têm dinheiro, não precisam de pagar aos clientes para que depositem as poupanças. Por isso, não estão interessados em subir os juros dos depósitos.
A expectativa do mercado é que as condições de subscrição dos certificados de aforro sejam revistas, a qualquer momento. Não seria a primeira vez que o Estado alterava os critérios de adesão, quando começa a pagar mais do que antecipava.
Na verdade, em 2022 o Ministério das Finanças já captou o triplo do montante esperado com os produtos de poupança, tudo graças aos certificados de aforro.
Se e quando mudarem as regras, só se aplicarão a novas subscrições. Os produtos já adquiridos não sofrem qualquer alteração.