03 fev, 2023 • Sérgio Costa
Os portugueses têm sentido na pele os aumentos das taxas de juro, sobretudo no crédito à habitação. Ainda esta quinta-feira, o Banco Central Europeu voltou a aumentar em 0,5 pontos a taxa de referência.
No entanto, os juros dos depósitos bancários não têm estado a aumentar.
A explicação é simples: os bancos não o querem fazer.
A banca tem duas formas essenciais de financiamento e de captação de dinheiro: através de empréstimos interbancários ou de depósitos e contas poupança. A verdade é que, quando as taxas Euribor descem, os bancos reduzem também as taxas de juro dos depósitos. No entanto, o inverso não está a acontecer.
E qual é a justificação? Os bancos portugueses dizem ter excesso de liquidez e que, por essa razão, não precisam de aumentar os juros dos depósitos. Por exemplo, a banca teima em oferecer aos titulares de depósitos de curto prazo até 1 ano taxas bastante reduzidas, muito distantes de 1%.
Ilegal não é, mas há quem considere imoral, uma vez que os bancos se têm apressado a aumentar as taxas de juro a quem contrai um empréstimo, mas não aumenta a quem constitui depósitos.
Mas a verdade é que não é ilegal, tratando-se de estratégias de mercado.
O comportamento tem sido similar, mas, ainda assim, mais favorável para os depositantes.
A média dos juros nos depósitos de curto prazo na Europa ronda 1,12%. Em Portugal, a taxa média é de 0,31%. Contudo, mesmo nos Países Baixos, onde melhor se remuneram os depósitos, a taxa de juro não chega aos 2%.
Certo é que nada obriga os bancos a aumentar a taxa de juro dos depósitos. Aliás, numa entrevista recente ao semanário Expresso, Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, justificou a lentidão em subir as taxas dos depósitos justamente com o excesso de liquidez.
Ainda assim acredita que, mais tarde ou mais cedo, haverá maior disputa entre os bancos no mercado.
Não, mas há recomendações nesse sentido, não só no espaço comunitário comunitário, mas também a nível nacional. Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, já sublinhou ser necessário pagar mais pelos depósitos.
No entanto, o discurso é sempre cauteloso. Apela à paciência dos depositantes e lembra que, quando as taxas de juro eram negativas em Portugal, os bancos nunca cobraram juros negativos.
Certificados de aforro. Com a subida das taxas Euribor, os Certificados de Aforro tornaram-se a aplicação de poupança, com capital garantido, mais rentável. Todas as outras opções rendem menos, de momento.
Em janeiro, a taxa base dos Certificados de Aforro subiu para 3,088% (bruta), contra 2,842% em dezembro.