14 fev, 2023 • André Rodrigues
Os internamentos sociais custam mais de 80 milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), segundo um estudo da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
O autor da investigação e especialista em Medicina Interna, Miguel Martins, explica que, dos mais de 470 doentes avaliados no Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa, cerca de 20% resultaram em internamentos sociais.
É uma situação na qual os doentes ficam mais tempo no hospital, mesmo depois de receberem alta médica. Ou seja, quando a sua permanência no hospital já não é clinicamente justificável, mas socialmente necessária.
Em muitos casos, os utentes não têm condições para regressar ou permanecer nas suas casas, seja por não terem autonomia suficiente - por não estarem em condições de cuidarem de si próprios -, seja por ausência de suporte familiar ou de uma rede de apoio.
É esta a realidade de muitas famílias em Portugal.
Acontece mais nos períodos do ano que coincidem com as férias, tanto do verão - sobretudo entre junho e agosto -, como no inverno. O período de Natal é uma das alturas em que é costume haver um aumento destes casos de pessoas que permanecem internadas mais tempo do que o necessário, sem razão clínica que o justifique.
Este é um fenómeno que ocorre um pouco por todo o país, mas é mais evidente nas duas grandes áreas metropolitanas: Lisboa e Porto.
Segundo a Confederação das Instituições de Solidariedade Social, chegam a ser mais de mil camas ocupadas por pessoas que já não deveriam estar nos hospitais.
Uma das consequências traduz-se na falta de vagas para pessoas que realmente necessitem de assistência e internamento hospitalar. Além disso, os internamentos sociais representam um custo anual 83 milhões de euros para o Serviço Nacional de Saúde.
Mulher com mais de 80 anos, diabética e com um internamento superior a oito dias.
Ou seja, a conclusão imediata é de que um internamento clínico de mais de uma semana confere, logo à partida, um risco, uma vez que as pessoas vão perdendo capacidades e torna-se impossível providenciar-lhes as condições de reabilitação que facilitariam um regresso a casa.
Para já, os autores do relatório sugerem um estudo mais abrangente, que permita identificar o risco de internamento social na população portuguesa.
Contudo, há cerca de uma semana, o Governo emitiu um despacho para reforçar a articulação entre instituições da área da saúde e do setor social, de modo a permitir que os utentes que não tenham autonomia ou rede de suporte familiar possam ser acolhidos em lares.
À Renascença, o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS), sublinha que o setor "tem acompanhado" a situação e que já tem "uma solução" para responder aos internamentos sociais nos hospitais.
Ao que a Renascença já apurou, o acordo proposto entre o Estado e o CNIS prevê uma comparticipação de 1.300 euros mensais por cada doente que vier a ser acolhido nas instituições particulares.
Caberá também ao Estado pagar a medicação do doente, sendo que a permanência nos lares das instituições se deverá prolongar por um período de seis meses.