22 fev, 2023 • Sérgio Costa
A Rússia suspendeu a sua participação no tratado de armamento nuclear New START, decisão que deixou a comunidade internacional apreensiva.
Os EUA já reagiram, com Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano, a falar de uma decisão "muito dececionante e irresponsável". "Continuaremos atentos para ver o que a Rússia está realmente a fazer."
É um tratado que limita o número de ogivas nucleares que os EUA e a Rússia podem instalar, ratificado em 2010.
Entrou em vigor em 2011 e, com este acordo, Moscovo e Washington comprometem-se a não instalar mais de 1500 ogivas nucleares estratégicas e a limitar até 700 os mísseis e bombardeiros de longo alcance.
O tratado prevê ainda fiscalizações de parta a parte. No entanto, por causa da pandemia, as fiscalizações ficaram suspensas. Em novembro era suposto que Moscovo e Washington se reunissem para retomar esse processo, mas a Rússia adiou as conversações e nenhuma das partes estabeleceu uma nova data.
Aumenta, pelo menos, a sensação de insegurança, mas na prática pode-se dizer que sim, uma vez que deixa de haver um controlo sobre a instalação de armas nucleares. Aliás, no ano passado, a Rússia disse que o perigo de um conflito nuclear era real e não deveria ser subestimado.
E esse receio tem aumentado desde a invasão da Ucrânia. Falta perceber se é apenas "bluff" a Rússia, mas nesta altura é impossível chegar a uma conclusão. Certo é que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo pareceu surpreendido com o anúncio de Putin, apressando-se a dizer que era apenas uma suspensão e não uma retirada.
Os analistas apontam ser uma forma de Putin tentar pressionar o Ocidente a deixar de fornecer armas à Ucrânia.
O Presidente russo acusou os Estados Unidos e os seus aliados da NATO de declararem abertamente o objetivo da derrota da Rússia na Ucrânia, tendo sido esta a justificação para a suspensão do tratado New START.
Frontalmente, não. No entanto, recentemente, Moscovo afirmou que queria preservar o tratado, deixando entender que poderia abandonar por considerar a abordagem dos EUA destrutiva no que toca ao controlo de armas.
Importa dizer que Rússia e os EUA detêm cerca de 90% das ogivas nucleares do mundo
Esses esforços têm-se ficado pelos apelos. António Guterres, secretário geral da ONU, apressou-se a pedir à Rússia para que regresse ao tratado, sinal esse da apreensão internacional quanto à decisão de Moscovo.
Em declarações à imprensa esta terça-feira, Stéphane Dujarric, porta-voz de Guterres, disse mesmo que o New START "trouxe paz não só aos Estados Unidos e à Rússia, mas também a toda a comunidade internacional".
"Um mundo sem controlo de armas nucleares é muito mais perigoso e instável, com consequências potencialmente catastróficas. É vital que o compromisso de alto nível entre as duas potências nucleares mais poderosas do mundo continue e é por isso que apelamos a um reatamento da plena implementação do New Tratado START por todas as partes."