O preço de quase todos os alimentos básicos continua a subir, apesar do abrandamento da inflação. Se compararmos com os preços de há um ano, o cabaz alimentar básico ronda os 100 euros, um aumento de quase 29%.
É o efeito conjugado dos efeitos da pandemia, da subida da inflação e da guerra na Ucrânia. Na verdade, os preços dos alimentos já estavam a subir em 2021, ainda fruto da crise provocada pela Covid-19, mas é sobretudo a soma da inflação com a guerra na Ucrânia que faz com que este problema persista. E se há casos em que até se entende o aumento dos preços, há outros em que não se compreende muito bem como é que não estabilizaram com a descida da inflação.
Por exemplo, arroz. Há um ano, um quilo de arroz carolino custava 1 euro e 14 cêntimos. Agora, custa praticamente 2 euros, mais 73%. Outro exemplo: um quilo de pescada custa 10 euros. Há um ano, a mesma pescada custava menos 4 euros. Outro exemplo, ainda: cebola... num ano o preço aumentou 49%. Um quilo de cebolas custa atualmente 1 euro e 56 cêntimos. Finalmente, azeite virgem. Está a custar praticamente 7 euros, há um ano não chegava a cinco euros.
Ou seja, numa conta rápida - conjugando estes exemplos - percebe-se, por exemplo, que a receita de um simples arroz de peixe está quase 60% mais cara do que há um ano.
É uma pergunta para uma resposta complexa. Vamos a factos: os supermercados têm margens de lucro brutas acima dos 50% em alimentos essenciais.
O inspetor-geral da ASAE fala de "especulação objetiva". Um estudo feito nas três maiores cadeias de distribuição detetou lucros de 52% na cebola, 48% nas laranjas, 45% na cenoura e nas febras de porco, 43% nos ovos... e houve, até, casos em que os preços cobrados em caixa eram 70% superiores aos que estavam marcados nas prateleiras.
Essa é a perceção dos consumidores, a de que os supermercados são os que mais têm ganhado com a subida constante dos preços da comida.
Desde logo, mais ações de fiscalização da ASAE. Ontem mesmo, o Governo prometeu ser inflexível com as práticas abusivas em matéria de preços dos bens alimentares.
O ministro da Economia anunciou um reforço das ações por parte da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica para inspecionar a fixação de preços nas prateleiras dos supermercados.
No entanto, António Costa Silva diz que também é importante compreender a estrutura de preços do setor, desde a produção à comercialização, passando pela distribuição. Ou seja, mais transparência em todo este processo.
"A culpa não é nossa". A associação que representa os supermercados rejeita responsabilidades no aumento dos preços da alimentação e garante que não houve qualquer aumento das margens de lucro.
A APED diz que “a margem média do setor do retalho alimentar” ronda os 2% a 3%, ao passo que as margens da indústria são de "15% a 20%".
O que é que a associação dos distribuidores quer dizer com isto? Quer dizer que os supermercados estão a comprar os produtos cada vez mais caros aos fornecedores.
Logo, os "aumentos no início da cadeia refletem a subida dos custos dos fatores de produção decorrentes dos aumentos dos preços dos fertilizantes, das rações e de outros custos relevantes" para a produção. Ou seja, segundo a APED, não se trata de lucro para os supermercados. O problema está no preço dos produtos no início da cadeia.