17 abr, 2023 • Miguel Coelho
Poucos imaginariam que a visita a Portugal de Lula da Silva, que vai acontecer a partir de de sábado, pudesse causar tamanha agitação.
A verdade é que está a causar desde que foi anunciada. Afinal, o que é que se passa?
O Explicador Renascença diz o que está em causa.
O mais recente episódio deve-se à guerra na Ucrânia.
Há muito se sabia que a posição de Lula é bem diferente da que é oficialmente assumida por Portugal, pela União Europeia e pela NATO. Mesmo assim, causaram estrondo as declarações do Presidente do Brasil na China e, depois, nos Emirados Árabes Unidos.
É certo que Lula até propôs a Xi Jinping que promova o diálogo para a paz entre Moscovo e Kiev, mas de imediato avisou Zelensky que "não pode querer tudo", defendo que a Ucrânia deveria abdicar da Crimeia, que foi anexada pela Rússia em 2014.
Mas Lula da Silva não ficou por aqui e acusou os EUA e a União Europeia de prolongarem e encorajarem a guerra.
A posição oficial foi veiculada por João Gomes Cravinho que garante que a posição assumida por Lula não causa "embaraço nenhum" e que não constituem uma surpresa.
O ministro português dos Negócios Estrangeiros considera que os dois países podem ter posições diferentes, sem que isso possa abalar as relações entre Portugal e Brasil.
Mas, claro que tendo obrigações internacionais, desde logo sendo membro da NATO, Portugal não deixa de enfrentar aqui um difícil exercício de equilibrismo, para não ferir suscetibilidades de ninguém.
O PS também se mostra compreensivo.
Este fim de semana, Jamila Madeira acusou o PSD de "dualidade de critérios", por não apontar o dedo a Emmanuel Macron por alegadamente fomentar, pelas mesmas vias, a "busca pela paz", na Ucrânia.
Jamila reagia, desta forma, às palavras do social-democrata Paulo Rangel, por instar o governo português a demarcar-se publicamente das declarações do Presidente do Brasil.
Por seu lado, esta segunda-feira, o líder do PSD fez questão de sublinhar que vai dar as "boas-vindas a Lula da Silva" e esclareceu que uma coisa é a posição de Lula da Silva sobre a guerra, outra é a relação entre o Brasil e Portugal. Luis Montenegro diz que aqueles que confundem estes dois planos "não estão à altura de assumir cargos de responsabilidade na democracia português".
Sim, partidos que prometem fazer-se ouvir durante a visita.
O Chega considerou "ultrajante" que o PSD saúde a visita de Lula a Portugal. Já o líder da Iniciativa Liberal escreveu no Twitter que o Parlamento português já não está em condições de receber "um aliado de Putin, como Lula, no 25 de abril".
Ora, tanto a posição do Chega, como a do iniciativa Liberal obrigaram o PSD a separar as águas e a dizer que os dois partidos à sua direita "não estão à altura de assumir cargos de responsabilidade".
O Bloco de Esquerda começou por dizer que olha para a presença de Lula no 25 de Abril como "um cravo na lapela" da esquerda e já esta segunda-feira, apesar de insistir que condena a Rússia, Catarina Martins defendeu que a União Europeia "precisa de insistir mais na paz".
Quanto ao PCP diz sem qualquer surpresa que, pela sua parte, Lula será bem recebido, apesar das manifestações já convocadas pela comunidade Ucraniana que se refugiou em Portugal, para escapar à invasão e destruição do seu país pelas tropas de Putin.
Sim, tudo começou em fevereiro, quando João Gomes Cravinho, o ministro dos Negócios Estrangeiros, anunciou que Lula da Silva iria discursar no parlamento na sessão solene do 25 de abril.
Foi aí que a polémica estalou, porque o convite caberia ao Parlamento e não ao Governo. Resultado: Lula será recebido a 25 de Abril no Parlamento, mas antes da cerimónia comemorativa dos 49 anos da revolução.