24 abr, 2023 • André Rodrigues
Já começaram a ser retirados os primeiros cidadãos portugueses no Sudão, país que tem sido palco de violentos confrontos há mais de uma semana.
Mais de 400 pessoas já morreram no conflito e, perante estes acontecimentos, os governos de vários países já começaram a retirar os seus cidadãos.
De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, serão pouco mais de 12 os portugueses no Sudão. Nas últimas horas, pelo menos alguns desses portugueses já saíram do país a bordo de um avião espanhol.
Em comunicado, o governo de Madrid confirma a retirada de "mais de 30 espanhóis e outros 70 cidadãos latino-americanos e europeus", incluindo portugueses - não se sabe, no entanto, quantos são ao certo.
Este avião militar espanhol descolou de Cartum, a capital do Sudão, por volta das 22h00 deste domingo.
Em causa está mais uma disputa territorial e um acordo para a partilha do poder entre as Forças Armadas do país e o grupo paramilitar das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
Nesta altura, o Sudão assiste à pior fase da confrontação entre as duas fações, que já foram aliadas e estavam, até, destinadas a fundir-se para partilhar o poder e concluir a transição democrática iniciada em 2019, com a deposição do ditador Omar al-Bashir.
Contudo, em 2021, esse processo foi interrompido por um golpe militar. Desde então, tem aumentado a tensão entre as Forças Armadas e os paramilitares.
Essencialmente, procuram protagonismo no processo de transição democrática.
Os militares, liderados pelo Presidente interino do país, rejeitam a integração das forças paramilitares nas Forças Armadas sudanesas, num cenário que coloca em confronto direto o atual líder - que comanda as Forças Armadas oficiais - e o seu número 2, que está à frente das Forças de Apoio Rápido.
O objetivo de ambos é dominar a capital Cartum, a qual, nos últimos dias, tem sido o epicentro da violência que agora se espalha para outras zonas do país.
Em pouco mais de uma semana, há registo de mais de 400 mortos e mais de mil feridos. Há ainda falhas constantes de água e de eletricidade, o que dificulta a missão das equipas de socorro, e um terço da população necessita de apoio alimentar urgente.
Com a violência sem tréguas em muitas regiões do país, começa a registar-se um movimento muito significativo de famílias deslocadas.
Quando estes confrontos se agravaram, muitas pessoas estavam fora de casa. Há relatos de famílias separadas ou apanhadas de surpresa nas trocas de fogo. Uma situação cada vez mais difícil e que está a levar muitas famílias ao desespero.
É muito prematuro falar sobre um cessar-fogo, ainda por cima num país marcado pela guerra civil, golpes de Estado e tentativas reiteradas de tomada do poder.
Vários especialistas apontam como improvável um cessar-fogo até que uma das partes esteja no controlo das principais instituições políticas e militares.
Além disso, tanto as Forças Armadas como o grupo paramilitar estão fortemente armados, pelo que o cenário mais provável é um conflito prolongado, num país estratégico do continente africano e que se tornou foco de influência numa batalha entre países como os EUA e a Rússia.
Vale a pena lembrar, por exemplo, que há navios de guerra russos atracados em portos sudaneses no Mar Vermelho. Por outro lado, há também operacionais do Grupo Wagner no Sudão.