02 mai, 2023 • Miguel Coelho com redação
Sabemos que este encontro com o Presidente da República se realizou depois da reunião que houve durante a manhã entre Costa e o ministro das Infrastruturas, João Galamba. Esta reunião com Galamba, na residência oficial de S. Bento, durou cerca de hora e meia, o ministro saiu em silêncio.
O que se sabe é que o primeiro-ministro cancelou a agenda que tinha para esta terça-feira e optou por ficar em Lisboa, onde reuniu com o núcleo duro do Governo - que inclui os ministros Mariana Vieira da Silva, Pedro Adão e Silva, Fernando Medina e Duarte Cordeiro -, o que deixou no ar a possibilidade de estar em causa uma remodelação mais vasta e não apenas a possível demissão de Galamba. Costa seguiu depois para Belém para a tal reunião com Marcelo Rebelo de Sousa, que durou quase duas horas.
Pelo que Marcelo Rebelo de Sousa foi deixando entender na segunda-feira e pelo que revelou já esta terça-feira ao jornal Expresso, o Presidente terá dito ao primeiro-ministro que João Galamba não tem condições para se manter no Governo, perante este caso que Marcelo qualificou como matéria de Estado "muito sensível".
Na segunda-feira, o Presidente recorreu até a uma frase enigmática, referindo que: "as coisas sucedem, vão sucedendo e depois verifica-se que sucederam", o que pode sugerir a tomada de decisões que depois serão conhecidas. Tudo sugere que é nessa fase que estamos e que ao fim desta tarde serão conhecidas as decisões, que, no mínimo, poderão passar pela saída de Galamba.
Sim, pelo menos disse que o ministro tinha dado “e bem”, na opinião de Costa, o alerta às autoridades do que classificou como um "roubo do computador". O tal computador que o ex-adjunto de João Galamba, entretanto demitido, levou do Ministério com alegados documentos classificados - um deles seria o Plano de Restruturação da TAP. E, pelo que se percebe, terá sido para recuperar o computador que terá sido acionado o SIS, o Sistema de Informações de Segurança, vulgarmente designado de Serviços Secretos.
Temos de esperar pelo fim do filme. É esta intervenção do SIS que torna todo este caso ainda mais sensível, porque a generalidade dos especialistas defende que o SIS não tem competência para intervir desta forma, além de que depende diretamente do primeiro-ministro. Quanto a isto, António Costa garante que não foi informado sobre o acionamento do SIS, “nem tinha de ser”, segundo diz, o que já parece mais estranho. A verdade é que, apesar de não condenar o “comportamento individual do ministro”, Costa acabou por concluir que a credibilidade do Estado tinha ficado “claramente afetada”. Portanto, a consequência lógica é que alguma decisão terá de ser tomada.
Pode, a avaliar até por várias vozes do próprio PS que temos ouvido, como o próprio presidente do partido, Carlos César, ou o deputado Vitalino Canas, entre outros, que defendem que António costa deveria aproveitar esta oportunidade para uma remodelação mais alargada. Há ainda quem defenda que Marcelo Rebelo de Sousa devia incumbir António Costa de constituir de raiz um novo Governo, mas também tem ficado claro nos últimos meses que a capacidade de recrutamento de personalidades para o Governo por parte do primeiro-ministro tem vindo a diminuir. Assim, teremos mesmo de esperar pelos desenvolvimentos e tudo indica que pode não ser preciso esperar muito.