09 jun, 2023 • Sérgio Costa
Nos últimos dias, as atenções têm estado viradas para as consequências do colapso de uma barragem em Nova Kakhovka, na Ucrânia.
Não é claro o que causou a destruição da estrutura, na noite de segunda-feira para terça-feira, mas os indícios apontam para um ataque das tropas russas.
Se se olhar para História, sabemos que, em diferentes cenários de guerra, a destruição de grandes infraestruturas serviu para travar o avanço de forças adversárias - num momento em que há relatos de que o exército da Ucrânia avançou de forma algo significativa na zona de Kherson.
A inundação que se seguiu obrigou à retirada de 40 mil pessoas das suas habitações. Há ainda confirmação de vítimas mortais.
De salientar que, naquela região, atravessada pelo rio Dniepre, habitavam cerca de 25 mil pessoas nas áreas controladas pela Rússia e 17 mil na área de controlo ucraniano.
Para que se perceba a dimensão da situação, a barragem retinha cerca de 18 quilómetros cúbicos de água. É, aproximadamente, a dimensão do Great Salt Lake no Estado norte-americano do Utah.
As grandes inundações aumentam o risco da detonação de minas terrestres, que podem ser arrastadas das suas posições originais, e, no plano sanitário, destaca-se o risco de cólera, situação que já motivou um alerta da OMS.
Sim. Ao longo do rio Dniepre, aldeias e cidades podem não voltar a ser habitáveis durante anos. A agricultura está comprometida.
De resto, fala-se mesmo em "ecocídio", uma vez que também fauna e flora vão demorar décadas a recuperar. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, diz que este será "o maior desastre ambiental causado pelo Homem na Europa em décadas".
Sim, na Europa e no mundo. E porquê? Por causa da escassez de água, também a produção de alimentos, como trigo, milho, óleo de girassol e soja, será afetada, com efeitos que poderão ser sentidos à escala global.
Porque os danos também afetam o reservatório que serve de arrefecimento à central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa. Esse reservatório é essencial para a segurança da central.
No entanto, a Agência Internacional de Energia Atómica garante não haver risco imediato de segurança nuclear e os técnicos já estão a acompanhar a situação.