09 jun, 2023 • Miguel Coelho
Esta sexta-feira foram conhecidos novos dados que podem ajudar a perceber a origem do que aconteceu.
Um relatório divulgado na Noruega, por cientistas noruegueses, parece confirmar que houve uma explosão na barragem na madrugada do passada terça-feira, às 2h54, segundo indicam os registos sísmicos.
No entanto, não é possível provar só por este facto que tenha sido uma explosão deliberada e muito menos tirar conclusões sobre a autoria.
Até porque há fotos de satélite que mostram que alguns dias antes já havia sinais de danos na barragem.
Há também vídeos que mostram que já havia brechas na barragem por onde saiam torrentes de água, o que deixa em aberto a possibilidade de ter havido uma causa anterior ao momento dessa aparente explosão registada pelos sismógrafos.
Não se sabe, não está sequer provado que tenha sido um ataque, mas se foi, o mais provável que tenha sido obra russa. Pelo menos, esta é a opinião da maioria dos observadores ocidentais.
Já hoje, os serviços de segurança ucranianos anunciaram que intercetaram uma conversa telefónica entre dois oficiais russos e que alegadamente comprovaria que o que aconteceu na barragem foi uma acção de um grupo russo de sabotadores.
Moscovo, por outro lado, já veio desmentir esta acusação. E, de facto, parece difícil, pelo que foi divulgado, que esta escuta telefónica só por si possa ser uma prova concludente.
Essa é uma questão complexa, porque, na verdade, o colapso da barragem prejudica não só a população ucraniana - milhares de pessoas tiveram de ser retiradas de casa devido às inundações, pelo menos 13 pessoas morreram, embora se tema que o número real possa ser superior.
Mas do lado russo, a população também foi afetada, em especial na península da Crimeia, que fica a pouco mais de 50 quilómetros a Sul de Nova Kakhovka e que é abastecida pela barragem.
Isto porque a Crimeia, que está ocupada pela Rússia praticamente não tem água doce e é abastecida por um canal a partir da albufeira, que agora está comprometido.
Portanto, à partida também os russos teriam interesse em evitar a destruição da barragem.
E a tese veiculada pelo Kremlin é precisamente a de que terão sido forças ucranianas a destruir a barragem para privar de água a Crimeia.
Poderá ter sido tática militar, porque ao que tudo indica a Ucrânia estará a iniciar a contraofensiva há muito prometida.
E a destruição da barragem, com a inundação de quilómetros em redor, cria um obstáculo ao eventual avanço das tropas ucranianas.
Além de que a estrada que liga as duas margem do rio Dnipro passava precisamente no paredão da barragem, portanto, as forças ucranianas ficam impedidas de atravessar o rio, pelo menos por ali.
O que já foi uma manobra que a União Soviética usou na Segunda Guerra Mundial - na altuira para impedir o avanço dos tanques alemães, destruiu uma barragem, ainda que à custa um grande número de mortos entre a população.
E é também esse precedente histórico que leva muita gente a apontar o dedo à Rússia como principal suspeita da explosão da barragem.
Poder, pode, até porque é uma barragem já com bastantes anos, embora os especialistas dizem é uma possibilidade remota, porque é um tipo de barragem muito seguro. Há muitas em funcionamento um pouco por todo o mundo.
Agora, a verdade é que também se desconhece se recebeu a devida manutenção, sobretudo neste último ano em que esteve sob controlo russo, portanto, ainda nada se pode descartar.