19 jun, 2023 • Miguel Coelho
A UEFA confirmou, esta segunda-feira à tarde, que convidou o primeiro-ministro para ir ver a final da Liga Europa.
Mas a questão original ainda está por explicar: porque é que António Costa foi a Budapeste sem que isso constasse da agenda oficial?
O que seria o mais normal, uma vez que o primeiro-ministro viajou na qualidade de chefe do Governo a bordo de um avião da força aérea, ou seja pargo pelos contribuintes.
Se tinha intenção de - a caminho de uma cimeira europeia na Moldova - parar na capital de Hungria para ver o jogo, o que seria de esperar é que esse facto fosse divulgado publicamente.
Só se soube na passada sexta-feira, através do jornal Observador, sendo que a final da Liga Europa foi a 31 de Maio, portanto, só se soube mais de duas semanas depois.
E António Costa pelos vistos escondeu essa ida a Budapeste do próprio Parlamento, porque já hoje o líder do PSD recordou que o primeiro-ministro pediu para antecipar um debate no parlamento com o argumento de que teria de viajar para a cimeira na Moldova.
O que leva os social-democratas a concluir que afinal a antecipação do debate só foi pedida para Costa poder ir ver o jogo.
Até agora António Costa nada disse. Foi apenas emitida, esta segunda-feira de manhã, uma nota pela assessoria de imprensa do primeiro-ministro.
A nota indica que situando-se Budapeste na rota para Chisinau, a capital da Moldova, o Primeiro-Ministro fez uma escala na Hungria, correspondendo a um convite do Presidente da UEFA para assistir à Final da Liga Europa.
E que António Costa mereceu o tratamento protocolar adequado tendo sido sentado ao lado do seu homólogo húngaro.
Isto porque as imagens de Costa ao lado de Viktor Órban constituem outra faceta desta polémica.
Órban é conhecido pelas suas posições de extrema-direita, muito controversas.
E o primeiro-ministro, que tanto critica em Portugal os populismos e em particular o Chega, em Budapeste esteve tranquilamente com o extremista húngaro.
Mas convém lembrar esse jogo da final da Liga Europa tinha uma ligação a Portugal, que pode justificar a presença de Costa. É que uma das equipas, neste caso a A.S. Roma, é treinada por José Mourinho.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi questionado sobre o caso e se Costa até agora não falou, bem se pode dizer que Marcelo falou por dois.
Começou por dizer que foi informado da escala de Costa e que o primeiro-ministro foi a Budapeste dar um abraço a Mourinho, podia ser que desse sorte "e quase deu", disse Marcelo, na passada sexta-feira.
Sábado já acrescentou outra versão, questionado sobre se a paragem na Hungria não deveria constar da agenda pública de Costa, o presidente admitiu que possa ter sido uma decisão de “última hora”.
Mas juntou outra explicação, que era preciso fazer uma "escala técnica”, devido a possível “falta de autonomia” do avião.
Pode ter sido esse o caso, só que estes aviões Falcon 50 da Força Aérea voam mais de 5 mil quilómetros sem necessidade de reabastecer. E a capital da Moldova fica a pouco mais de 3 mil quilometros de Lisboa.
Portanto, a explicação da escala técnica por falta de autonomia é no mínimo estranha, sobretudo vinda de Marcelo Rebelo de Sousa, que deve estar farto de viajar nestes aviões.
São explicações que parecem demasiado variadas e sobretudo à posteriori para mais um episódio dispensável.