05 jul, 2023 • Pedro Mesquita
A grande conclusão a que chegou a relatora do documento, a socialista Ana Paula Bernardo, é que não há evidência de que tenha havido interferências na gestão da TAP, por parte da tutela, nomeadamente, por parte dos ministérios das Finanças e das Infraestruturas.
Por outro lado, o documento iliba o executivo de responsabilidades na polémica indemnização a Alexandra Reis. Lê-se que o "valor da indemnização não foi definido pelo Governo" e que Alexandra Reis deixou a TAP por "exclusiva vontade e iniciativa de Christine Ourmières-Widener, a antiga CEO da companhia aérea.
Nota importante: Segundo o texto "os motivos do despedimento não foram apurados com exatidão".
Noutra passagem, o relatório preliminar admite que "o Plano de Reestruturação da TAP teve impactos negativos sobre os trabalhadores". Basta pensar na redução de pessoal e nos cortes salariais.
Nem uma palavra. A relatora explicou que optou por deixar de fora alguns temas para "não contaminar" as conclusões. Alguns desses temas, segundo argumentou, não diziam respeito à TAP, outros não se enquadravam no âmbito da comissão de inquérito, que era investigar a gestão e a tutela política da TAP, entre 2020 e 2022.
Em contrapartida, este mesmo relatório refere-se longamente à privatização da TAP em 2015, quando Passos Coelho era primeiro-ministro. Mas foi essa a opção da relatora socialista.
Do primeiro-ministro não houve reação, porque António Costa lembrou que este é um relatório preliminar e diz que só fala no fim. Disse, aliás, que nem leu o relatório, e tudo o que sabe ouviu na comunicação social.
A oposição recorreu a uma variedade de qualificações negativas. O PSD já prometeu que vai votar contra e apresentar as suas próprias conclusões. Os social-democratas rejeitam nomeadamente a conclusão de que não existiu ingerência política na TAP.
O Chega, fala num "frete ao governo", a Iniciativa Liberal diz que "estamos perante uma obra de ficção que contraria a realidade".
Nas bancadas à esquerda do PS a reação foi muito semelhante. O Bloco de Esquerda afirma que o relatório não teria sido muito diferente "se tivesse sido feito por Galamba ou por Costa". O PCP diz que o documento visa justificar a privatização da TAP.
O relatório final vai ser discutido e votado na próxima semana, dia 13, quinta-feira. Até à próxima segunda-feira vai ser possível apresentar propostas de alteração.
Mas com a maioria absoluta do PS, as conclusões serão sempre o que os socialistas quiserem.