21 jul, 2023 • Hugo Monteiro
Exato, é normal estar calor no verão. Menos normal é atingirem-se estas temperaturas. E há vários factores a contribuirem para isso. Primeiro, deve-se, em parte, ao anticiclone Charon - ou Caronte, em português - e que traz o calor do norte de África para a Europa. E não só o calor, como também as já famosas poeiras. A este junta-se um outro anticiclone - chamado Cerberus (e que dá nome a esta vaga de calor). Esta área de alta pressão começou no Saara antes de se deslocar pelo Norte de África e até chegar ao Mediterrâneo.
Depois, a superfície do mar está com temperaturas acima do normal - o que faz com que a temperatura da água não esteja a refrescar a terra. E, claro, este calor também se deve às altas emissões de gases de estufa.
Ainda por uns dias. E não nos podemos esquecer de que estamos a falar de previsões e "previsões só no fim do jogo". De qualquer forma, os especialistas admitem que esta vaga de calor extremo continue a atingir a região do Mediterrâneo até ao fim deste mês.
Portugal tem escapado a esta onda de calor graças ao "famoso" Anticiclone do Açores. Ele está, por estes dias, localizado mesmo sobre o arquipélago e ao contrário do outro anticiclone - o Charon, ou Caronte - o dos Açores traz até à costa portuguesa massas de ar que vêm do Atlântico Norte - logo mais frias dos que as que vêm do Mediterrâneo.
Mas atenção! À Renascença, o climatologista Carlos Câmara alerta que o anticiclone dos Açores não vai estar sempre lá a proteger Portugal continental do calor extremo. O nosso país pode ainda pode sofrer, este ano, vagas de calor idênticas às que assolam o sul da Europa.
Cerberus é uma figura da mitologia grega. É um cão de três cabeças que guarda as portas do Inferno. Mas o nome não é consensual. E em Itália a vaga ganhou o nome do anticiclone de que falamos há pouco - o Charon ou Caronte. Na Grécia antiga, este era o nome do barqueiro que levava as almas para o submundo. Ao contrário do que acontece aos furacões, por exemplo, aqui os nomes não foram escolhidos pelos serviços meteorológicos. No caso das vagas de calor, estes nomes "assustadores" têm sido escolhidos pelos orgãos de comunicação social ou por especialistas ouvido pelos jornalistas.
E aqui as opiniões dividem-se. Há cientistas que se dedicam ao clima que dizem que é preciso usar nomes assustadores para chamar a atenção do publico para estes fenómenos, mas há quem diga que, com as emissões de gases de estufa a aumentar, as vagas de calor vão ser tantas que rapidamente acabarão os nomes de monstros para serem usados.
O que significa que, eventualmente, poderá chegar o dia em que teremos uma onda de calor com nomes bem menos sinistros.