31 jul, 2023 • Anabela Góis
Na qualidade de ex-presidente do Grupo Espírito Santo e do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado vai a julgamento por um total de 65 crimes, exatamente os mesmos que lhe foram imputados pelo Ministério Público.
Estamos a falar de associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documentos, burla qualificada, branqueamento de capitais, infidelidade e manipulação de mercado.
O Ministério Público acusa o antigo banqueiro de ter liderado práticas criminosas não só no BES, mas em todo o grupo.
O juiz de instrução Pedro Santos Correia decidiu levar a julgamento Ricardo Salgado e outros 19 arguidos "nos exatos termos da acusação" do MP.
Não esteve. O advogado de Ricardo Salgado garante que o seu cliente sofre de Alzheimer e já tinha pedido o arquivamento do processo alegando que ele não tem capacidade para se defender. Esta segunda-feira disse que o ex-banqueiro nem sequer tem capacidade cognitiva para entender a decisão instrutória e voltou a insistir na necessidade de uma perícia independente à sua saúde, que não foi aceite nesta fase.
Francisco Proença de Carvalho considera que a decisão de levar Ricardo Salgado a julgamento já era previsível, uma vez que que o juiz admite que se limitou a cumprir calendário.
De resto, a mudança de juiz, no início do processo de instrução, devido a doença de Ivo Rosa, foi muito criticada pelos advogados dos principais arguidos, que consideram que Pedro Santos Correia não teve possibilidade de conhecer o processo
Ainda assim, Proença de Carvalho diz que ainda vai ler a decisão para se pronunciar de forma mais apropriada, porque o que foi lido esta segunda-feira foi apenas um resumo.
Alguns sim. Dezenas de lesados do BES concentraram-se hoje à entrada do tribunal e alguns assistiram mesmo à sessão. No final, mostraram-se satisfeitos com a ida a julgamento de todos os principais arguidos, apesar de todo este tempo em que têm estado à espera.
Vamos ter. Este é considerado um dos maiores processos da história da justiça portuguesa. Só para ser ter uma ideia, o processo principal agrega 242 inquéritos, que foram sendo apensados e queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro.
A acusação contabilizou cerca de quatro mil páginas, foram acusados 25 arguidos (18 pessoas e 7 empresas) o que dá uma clara noção daquilo de que estamos a falar.