09 nov, 2023 • André Rodrigues
No dia em que Marcelo Rebelo de Sousa decide o futuro político do país, surgem novos dados sobre as investigações que levaram à demissão do primeiro-ministro.
Desde logo, o nome da operação: a SIC revela que o Ministério Público batizou a esta operação como 'Influencer'. Trata-se de uma investigação do Ministério Público que incide sobre três grandes negócios: a exploração de lítio, o hidrogénio verde e o data center de Sines.
Porque, de acordo com a acusação do Ministério Público, o advogado Diogo Lacerda Machado terá funcionado como elemento de ligação entre o Governo e a sociedade Start Campus nos negócios do lítio e do hidrogénio que estão no centro das investigações.
Ou seja, o consultor terá usado a amizade com o primeiro-ministro para influenciar as decisões do Governo.
Além disso, Lacerda Machado é próximo de Vítor Escária, através de quem terá facilitado o acesso regular dos administradores da Start Campus, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, a membros do Governo, nomeadamente ao ministro João Galamba.
Quanto a António Costa, foram realizadas buscas no Palácio de São Bento e o primeiro-ministro foi, também, intercetado em escutas telefónicas.
Em matéria de responsabilidade política, sim, porque são buscas que visam pessoas muito próximas do primeiro-ministro. Daí a demissão apresentada esta terça-feira. Em termos legais, há que aguardar pelas investigações.
Seja como for, Costa aparece nas escutas telefónicas em conversas com o seu chefe de gabinete - Vítor Escária -, com Diogo Lacerda Machado, consultor jurídico e amigo pessoal do primeiro-ministro e com João Galamba.
Já nas buscas em São Bento, só o gabinete de Vítor Escária foi alvo de buscas e os investigadores não encontraram qualquer material diretamente relacionado com António Costa.
No entanto, a SIC revela que foram apreendidos quase 76 mil euros em numerário no gabinete de Vítor Escária.
Os autos desta operação referem mais de 20 escutas telefónicas em que António Costa surge como um dos interlocutores, entre novembro de 2020 e este ano. Além das conversas com Vítor Escária, Lacerda Machado e João Galamba, foram, também, intercetadas chamadas com João Pedro Matos Fernandes, ex-ministro do Ambiente e suspeito de corrupção passiva e prevaricação.
De acordo com o jornal Observador, Costa diz desconhecer as escutas, acrescentando que não comenta processos que garante desconhecer "em absoluto".
No entanto, há indícios de que o chefe do Governo saberia que estava sob escuta, uma vez que - pelo menos por duas vezes - optou por encontros pessoais com Matos Fernandes, para não terem de falar ao telefone sobre os negócios do lítio e do hidrogénio.
Estas escutas que envolvem o primeiro-ministro constam da certidão enviada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) ao Ministério Público e foram validadas por dois juízes do Supremo Tribunal de Justiça.