18 jan, 2024 • André Rodrigues
Portugal é o país com mais crianças institucionalizadas na Europa e na Ásia Central. A UNICEF fez o retrato e concluiu que - entre mais de 40 países - Portugal é o país com mais crianças acolhidas em instituições de acolhimento.
De acordo com o relatório da UNICEF, o problema em Portugal é a falta de uma cultura de acolhimento familiar. O documento indica que o país segue a tendência dos países da Europa Central, que têm recebido um grande número de crianças e jovens que chegam desacompanhados à Europa, à procura de asilo.
No caso português, a UNICEF conclui que 95% das crianças ao abrigo do Sistema de Promoção e Proteção, estão em acolhimento residencial, ou seja, estão em instituições.
O número é bastante revelador: entre os 42 países da Europa e da Ásia Central analisados, Portugal é que tem maior taxa de crianças em unidades de acolhimento: são 294 por cada 100 mil, o que, praticamente, corresponde ao triplo da média mundial.
São dados que revelam uma excessiva dependência do acolhimento residencial em vez das famílias de acolhimento.
A UNICEF recomenda, por isso, a adoção de um plano urgente de desinstitucionalização. Ou seja, são necessárias políticas que promovam alternativas ao acolhimento em instituições.
Desde logo, ao nível emocional. São crianças que apresentam sintomas de angústia psicológica, ansiedade e trauma. Isto porque, em muitos casos, são acolhidas em instituições de grande dimensão, o que acaba por conduzir a um acompanhamento menos personalizado.
São crianças que podem ter dificuldade em desenvolver relações positivas na infância e na idade adulta, o que, muitas vezes, torna-as mais propensas a conflitos com o sistema legal.
É uma espécie de círculo vicioso que, no final, acaba por perpetuar a institucionalização.
Um perfil deprimido. São crianças que apresentam atrasos na fala e no desenvolvimento, sobretudo nos primeiros anos de vida.
Isso é fruto da negligência emocional a que ficam sujeitas, o que, em muitos casos, se traduz numa muito maior exposição a situações de abuso e exploração.
Ou seja, tudo isto somado, agrava uma situação já de si bastante frágil.
Aí, o desafio é enorme. Desde logo, porque a institucionalização é praticamente inevitável.
A nível global, nos países onde há dados disponíveis, as crianças com deficiência representam até 87% das crianças em unidades de acolhimento.
E, no caso português, os dados mais recentes (2022) indicam que 14% das crianças institucionalizadas têm algum tipo de deficiência.
O relatório CASA - que caracteriza a situação das crianças institucionalizadas - acrescenta que a proporção de crianças com deficiência em todos os tipos de acolhimento residencial aumentou em Portugal entre 2015 e 2021.
Notícia atualizada às 12h00