29 fev, 2024 • Anabela Góis
O cacau é mesmo das matérias-primas cujo preço mais tem aumentado. No Explicador Renascença desta quinta-feira vamos tentar perceber porquê e o que está em causa.
Sem emprego não digo. Pode é ter de guardar as suas esculturas no banco.
O cacau já atingiu os 5.800 dólares por tonelada, o valor mais elevado de sempre, e mais do dobro do que se verificava por esta altura no ano passado.
Só para terem uma ideia, desde o início do ano, o preço do cacau já aumentou 35%, e a tendência é para que a situação se agrave. Aliás, a indústria que usa o cacau está a viver momentos de angústia e incerteza, porque há previsões que apontam para preços a rondar os 10 mil dólares por tonelada.
É um misto de fatores mas - como diz a agência Bloomberg - o problema do cacau é que ele depende de homens pobres, sobretudo africanos, que têm neste fruto a única forma de escapar da pobreza extrema. Ao longo dos anos, o cacau nunca evoluiu para um negócio de plantação, como aconteceu com o açúcar e o café.
Na maior parte dos casos, o cacau continua a ser produzido por pequenos produtores mal pagos e sem capacidade para renovar as plantas. Se juntarmos a isto as alterações climáticas que estão a afetar os países da África Ocidental - provocando secas extremas durante a maturação das sementes do cacau e cheias intensas durante as colheitas - o resultado é não só uma menor produção mas também mais doenças nos cacaueiros.
E não podemos ignorar, também, o efeito da guerra da Ucrânia. Embora indiretamente, o conflito também afeta este quadro, por causa do aumento dos preços dos fertilizantes.
São a Nigéria, os Camarões, o Gana e a Costa do Marfim. Os quatro juntos produzem quase 75% do cacau mundial, sendo que só a Costa do Marfim produz dois milhões de toneladas por ano. O consumo mundial é de 5 milhões de toneladas anuais.
Os maiores consumidores são os países europeus e os da América do Norte, mas os que estão a crescer mais são China e India.
Se não houver um ajuste, e o atual défice de produção se mantiver enquanto a procura não para de aumentar, o chocolate pode muito bem vir a ser um produto de luxo, só para alguns.
Haver há. Mas, para já, ainda são responsáveis por uma percentagem muito pequena, quase residual, da oferta.
Estou a falar do Brasil, Equador, Indonésia ou Peru, países que, de momento, estarão a lucrar com toda esta situação porque conseguem vender o cacau mais caro, ao mesmo tempo que vão criando condições para plantar mais árvores. Contudo, não têm capacidade para acompanhar a procura, que está a aumentar de forma significativa.