20 mar, 2024 • André Rodrigues
Faltam médicos dentistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Só 1% destes profissionais é que trabalham no setor público.
O Explicador Renascença esclarece os motivos para esta falha no SNS.
Dentistas não faltam, até porque existem em Portugal cerca de 13 mil dentistas.
Só que, na verdade, apenas 150 estão a trabalhar em unidades do Serviço Nacional de Saúde.
Porque o problema não é a falta de profissionais. É a falta de condições para fixar estes profissionais.
Há muitas situações de falsos recibos verdes e o melhor exemplo disso é o facto de, dos cerca de 150 dentistas no Serviço Nacional de Saúde, a esmagadora maioria estar em regime de prestação de serviços.
Ou seja, a recibos verdes, sem direito a férias ou a subsídios e com remunerações que não chegam aos 1.000 euros.
Trabalhando no setor privado.
E muitos acabam por abandonar o setor público, porque as condições de trabalho nas clínicas privadas acabam por ser muito mais atrativas.
Também. E esse é um dado igualmente significativo: mais de metade dos dentistas que emigraram, tentaram primeiro exercer a profissão em Portugal.
O retrato foi feito através de um estudo encomendado pela Ordem dos Médicos Dentistas. Entre os médicos dentistas que emigraram, quase 60% dizem que não conseguiam ter um rendimento satisfatório, 49% não tinham um salário estável. E 32% não tinham contrato de trabalho.
Perante este quadro, o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas diz que o problema só se resolve com a criação da carreira de especialidade em medicina dentária, a par com mais investimento nestes profissionais.
Falta de acesso a tratamentos para uma boa parte da população. E por duas razões: por um lado, há poucos médicos interessados em ficar no SNS, o que aumenta as listas de espera.
Por outro lado, e porque muitos destes médicos dentistas migram para o setor privado, muitos portugueses ficam sem tratamentos, porque não têm capacidade financeira para custear tratamentos nas clínicas privadas.
E o número é revelador: cerca de 30% da população portuguesa nunca vai ao dentista, porque não tem dinheiro para o fazer.
De acordo com a Direção-Geral da Saúde, há bons resultados, sobretudo na população jovem, entre os sete e os 13 anos.
A taxa de tratamentos preventivos realizados no Serviço Nacional de Saúde subiu mais de 10% nos últimos seis anos. Isto explica-se com o acesso proporcionado pelos cheques-dentista e com o encaminhamento para consultas de higiene oral em centros de saúde. Mas ainda há muito a fazer nas políticas dedicadas à medicina dentária.
Os profissionais queixam-se que continua a ser uma das áreas mais desvalorizadas da saúde em Portugal.