08 jul, 2024 • Sérgio Costa
A política francesa apresentou, este domingo, uma reviravolta nas urnas que apanhou todas as sondagens e analistas de surpresa.
A Nova Frente Popular, da esquerda, venceu as eleições quando tudo apontava para uma vitória da extrema-direita.
O Explicador Renascença dá conta do que é esta força de esquerda.
É uma coligação de vários partidos e movimentos da esquerda francesa incluindo o Partido Socialista, os Ecologistas, o Partido Comunista Francês, o Novo Partido Anticapitalista e a França Insubmissa que é o partido que terá, nesta coligação, mais assentos na Assembleia Nacional
O Estado no centro.
Um dos pontos centrais do programa da Nova Frente Popular, e um dos mais criticados, é o aumento do salário mínimo para 1.600 euros líquidos por mês (atualmente é de quase 1.400 euros) e a indexação dos salários à inflação.
A coligação garante que vai compensar os custos adicionais que esta medida terá para as Pequenas e Médias Empresas (PME) com ajudas públicas, propondo também um “protecionismo social e ambiental nas fronteiras da Europa” para proteger a produção das importações.
Não necessariamente. É diferente, porque em Portugal a chamada geringonça foi estabelecida após as eleições e não antes, não era uma coligação, apenas um acordo para garantir uma maioria parlamentar por forma impedir a governação do centro-direita.
Por outro lado, há uma diferença substancial: na geringonça, em Portugal, o partido maioritário era o PS, de centro-esquerda, pró-NATO e europeísta.
Em França, o partido maioritário na Nova Frente Popular é o França Insubmissa que é um partido anti-NATO, e em muitos pontos eurocético. Para além de tudo isto, a Frente Popular não tem maioria parlamentar.
Essa é a grande incógnita. O líder do França Insubmissa já veio exigir a nomeação de um primeiro-ministro da Frente Popular, mas não terá maioria, porque os liberais do Ensemble não deverão aceitar uma solução com Mélenchoncomo primeiro-ministro.
Na verdade, nada obriga o Presidente Macron a fazer isso. O chefe de Estado francês pode não nomear um chefe de Governo da esquerda.
Poderia nomear um primeiro-ministro de esquerda, correndo o risco de o ver enfrentar uma moção de censura que reuniria todos os blocos mais à direita para o derrubar.
Pode nomear um governo “técnico”, composto por especialistas, mas também corre o risco de ser chumbado.
Outro cenário possível: Emmanuel Macron poderá decidir manter Gabriel Attal no seu cargo e confiar-lhe a tarefa de formar uma coligação plural que se estendesse à sua esquerda, sem no entanto ter a certeza de obter uma maioria capaz de sobreviver a uma moção de censura.
A saída pode estar na nomeação de um primeiro-ministro de esquerda sem ser da França Insubmissa. O nome mais falado tem sido o de Marine Tondelier, dos ecologistas, que pode merecer a aprovação dos liberais, ao contrário de Mélenchon.