31 mar, 2020
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João Taborda da Gama acredita que era inevitável que as declarações de Graça Freitas, Diretora-Geral da Saúde, sobre a possibilidade de uma cerca sanitária no Porto, causassem profundo desagrado em Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal. O comentador da Renascença, no habitual espaço de comentário no programa "As Três da Manhã", fala em mais um erro na comunicação de Graça Freitas.
"Acho que foi mais um exemplo de má comunicação da Diretora-Geral da Saúde, que é uma pessoa que parece capaz do ponto de vista científico, mas tem cometido lapsos na comunicação. Este é um deles. Mexe com uma autarquia grande, com um presidente de câmara com as características do Rui Moreira. Só podia dar nisto. O presidente de Vila Nova de Gaia, que também é da zona metropolitana do Porto, também não gostará da ideia e tem uma grande influência no governo", diz.
No entanto, Taborda da Gama defende que a medida deve ser tomada se for necessária, quer agrade, ou não, os autarcas: "Mas trata-se de uma questão técnica e não política, seja no Porto ou onde quer que seja. Se for necessário e proporcional para defenderas pessoas, deve ser feito. Não importa se é medieval ou não".
Já Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, também comentador no mesmo espaço de opinião, acredita que Graça Freitas poderia ter evitado falar sobre o assunto, dado que ainda não existia uma decisão tomada.
"É uma decisão que pertence exclusivamente às autoridade de saúde. A DGS disse que não tinha nenhum plano e, por isso, era excusado dizer que estava a pensar sobre um tema desta gravidade. Basta a menção que pode ser equacionado para levar a comportamento das pessoas, mais não seja às pessoas sairem dos sítios para não ficarem nas zonas do confinamento", explica.
O autarca de Lisboa explica que o país espera unidade nos líderes políticos e de saúde, de forma a criar um ambiente de tranquilidade. No entanto, ressalva que é preciso que exista o diálogo.
"Deve haver pronunciamento, porque a democracia não ficou suspensa, mas todos esperam contenção dos responsáveis políticos. A capacidade de discordar e necessidade de debate não desaparece, mas todos esperam, até por uma questão de tranquilidade, sentir que os líderes das autoridades políticas e sanitárias estão convergentes e alinhados", diz.
Já Taborda da Gama acredita que o tema da cerca sanitária não é do foro político: "É a polémica que nos faltava. Trazer alguma política para isto parece-me desnecessário e desavisado. É uma questão de saúde pública, não me parece matéria para declarações políticas, apenas do foro científico".
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, diz que Rui Rio "está a pôr o carro à frente dos bois” quando fala de um governo de salvação nacional. João Taborda da Gama acredita que é preciso começar a pensar o futuro do país, no entanto, assume que as declarações de Rui Rio chegam numa altura errada e podem ser encaradas como estar a menosprezar a pandemia.
"Os dois têm razão. É preciso começar e é preciso que não se comece a pensar nisso. As soluções políticas de recuperação económica vão ser ao centro ou à direita. Mas falar disso agora ainda não é adequado, porque não se sabe da dimensão do que está a acontecer e porque falar de política pode ser visto como menosprezar a urgência que é salvar as pessoas", avança.
Já Fernando Medina não entende o "timing" escolhido pelo líder do CDS e aponta para os diversos desafios que o país terá até ao fim de 2020, antes de poder pensar num sistema político diferente.
"Não consigo perceber o tempo em que a declaração é feita. O país está todo concentrado no problema dramático que é a progressão do número de casos e da capacidade hospitalar. Este ainda teremos essa fase delicada da reabertura da atividade do país, mas não havendo vacina, poderá dar-se o reaparcimento de focos. Se formos uma coisa de cada vez ainda temos muita coisa para tratar este ano e acho que muito se vai decidir no debate europeu", remata.