23 fev, 2017
O acordo preliminar entre Espanha e Portugal adiou qualquer decisão sobre o futuro da central nuclear e do armazém para resíduos nucleares. Este pré-acordo satisfez a Comissão Europeia, que tem problemas mais sérios pela frente e quer ver-se livre de querelas que considera menores.
Mas não vejo motivos para qualquer regozijo, em Portugal, quanto ao dito acordo preliminar. Primeiro, porque a central, que já atingiu o seu prazo de validade, vai continuar em funcionamento por mais anos. E o ministro português do Ambiente admitiu que Espanha poderá entender que Portugal não precisará de ser consultado sobre esse prolongamento de vida da central, que aumenta os riscos ambientais para o nosso país. Nem sequer um novo estudo de impacto ambiental transfronteiriço está garantido. Quanto ao armazém de resíduos, Portugal suspendeu a queixa a Bruxelas, mas poderá reactivá-la. Será que a Comissão Europeia atenderá os interesses portugueses? Não é seguro.
Mas o principal motivo de desconfiança sobre Almaraz foi a forma humilhante para Portugal como os governantes espanhóis trataram até há pouco do assunto, sem sequer nos informarem e muito menos nos consultarem, como deveriam ter feito. Receio, por isso, que este acordo preliminar seja sobretudo uma maneira de Madrid ganhar tempo, aproveitando uma próxima oportunidade para ignorar de novo Portugal e fazer em Almaraz o que entende.