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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​O FMI contra a política

20 abr, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Quando se deve combater a subordinação da política à economia, o FMI propõe o inverso.

Segundo o jornal Público, o FMI vai lançar um extenso livro sobre política fiscal, com uma introdução assinada pelos três coordenadores da obra, Vítor Gaspar e dois outros altos funcionários da Fundo. Seguindo o resumo feito por Paulo Pena, jornalista do Público, uma das questões a que o livro pretende responder é esta: “o que pode ser feito para reduzir a influência da política nas decisões orçamentais?”.

É uma pergunta extraordinária, numa altura em que um dos graves problemas do capitalismo está, precisamente, na crescente subordinação da política às decisões de gestores empresariais, que não respondem perante os eleitores. E também na limitação da capacidade política dos países face a organismos internacionais, como FMI (é certo que como contrapartida de auxílio financeiro).

Propõem aqueles três dirigentes do FMI que se afaste a “ideologia” (como se o FMI não tivesse ideologia) e o que consideram “outros constrangimentos” a uma boa política orçamental através de regras, algumas das quais já vêm de trás – limites ao défice, ao endividamento, à inflação, etc. Em suma, seria o reino da tecnocracia. A menos que este conselho do FMI signifique, apenas, que países fora da UE e do euro deveriam adoptar medidas de controlo orçamental aí praticadas. Mesmo assim, importa democratizar esse controlo europeu – logo, torná-lo mais político e não menos.

A democracia liberal é hoje atacada não apenas pelos adeptos de regimes autoritários (Putin, Erdogan, V. Orban, etc.) mas, no plano das ideias e não só dos factos, pela ideologia tecnocrática. No limite, esta aconselharia a eliminação de eleições autênticas, que levam ao despesismo do Estado e a outras massadas da democracia. Foi o que fez Salazar.

Prefiro o conselho do Papa Francisco: "Devemos implicar-nos na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, visto que procura o bem comum."

Comentários
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  • MASQUEGRACINHA
    20 abr, 2017 TERRADOMEIO 18:53
    Muito bom texto - claro e incisivo, até com uma algo inesperada pontinha de "paixão", sobre uma temática fundamental nestes decisivos tempos que vivemos: o necessário reequilíbrio da relação economia-política. Ou abrimos os olhos e tomamos partido pela prevalência de uma das vertentes, ou dentro de poucos anos estaremos em plena barbárie tecnocrática, abusados por cinismos com interesses de causa, e sem solução que não passe pelo ferro-e-fogo. O Sr. S. Cabral expressa inequivocamente a sua opinião - e faz-se não só eco das palavras do Papa Francisco (o que já seria excelente!), que tanto e tão claramente tem falado de economia e de política, como lhes comprova a aplicabilidade prática, mesmo ao mais alto nível. E não é sobretudo desse "mais alto nível" que o Papa tem falado, tem tido a coragem de falar? Com palavras duras, apontando nomes e responsabilidades concretas, que tão poucos têm tido a coragem pública de subscrever e disseminar... Há pessoas que se diria já terem nascido velhas, pelo que nem a idade lhes traz aquele "saber de experiências feito", ou pelo menos alguma relativização dos erros e acertos próprios da vida humana. Acho que não é, de todo, o caso do Sr. S. Cabral (e por isso o leio) : não só me parece vivinho da costa, como de inteligência afiada a distinguir o essencial do acessório. P.S.: a revisão dos artigos anda a precisar de afinação. Antes que o lapidem com dicionários, seria de corrigir aquela das "massadas democráticas", embora seja cómica q.b.
  • Miguel Botelho
    20 abr, 2017 Lisboa 08:59
    Depois do texto vergonhoso que escreveu ontem, cheio de lacunas e erros gráficos (corrigidos rapidamente a seguir), o ex-assessor de Cavaco Silva, Sarsfield Cabral, tenta se retratar com este novo texto, para fazer crer aos leitores que não é a favor do FMI. Para tentar ainda mais convencer os leitores que nunca foi a favor do FMI, alude aos regimes «ditatoriais» de Putin e Erdogan e finaliza com o Papa Francisco. É o que se chama um triste espectáculo de alguém já com pouco talento para a escrita de opinião. Posso até concluir que este último texto é a prova que Sarsfield Cabral, como homem lúcido, acabou.