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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A revolta dos sobreviventes em Londres

19 jun, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os moradores na torre de habitação social haviam alertado para o perigo. Não foram ouvidos.

Depois do mais mortífero incêndio florestal de sempre em Portugal fará sentido falar do anterior incêndio num prédio de Londres? A tragédia de Pedrógão Grande foi causada, confirma a Polícia Judiciária, por uma “trovoada seca” num dia de calor excepcional. Foi encontrada a árvore atingida por um raio, que desencadeou a tragédia.

Não faltam os “treinadores de bancada”, apontando falhas aqui e ali e argumentando que se devia ter combatido as chamas de outra maneira. Não vou por aí. Claro que se pode e deve sempre melhorar, aprendendo com o que terá falhado, em particular na decisiva área da prevenção. Mas sobretudo saúdo a coragem, por vezes heróica, dos bombeiros e das forças de segurança neste combate desigual.

O caso da torre de Londres é diferente e vale a pena comentá-lo. Tratava-se de um prédio de habitação social perto do centro da cidade, num bairro de gente rica, Kensington.

Moravam no prédio de 23 andares muitos imigrantes, incluindo portugueses. Ora, os moradores tinham alertado várias vezes para os riscos de incêndio daquela torre. As autoridades nada fizeram.

Daí a revolta, a raiva, a fúria dos sobreviventes. Subjacente a esses sentimentos está a ideia de que a atitude das autoridades teria sido outra, caso as queixas tivessem partido de pessoas com um mais elevado estatuto económico e social. E há milhares de milionários a viver em Londres. Também por isso multiplicaram-se os protestos, as manifestações e as vigílias.

A revolta dos sobreviventes não tomou como alvo o “mayor” (presidente da câmara) de Londres e beliscou relativamente pouco as autoridades locais de Kensington e Chelsea, mas concentrou-se na primeira-ministra Theresa May. Esta tomou inicialmente uma posição fria e distante e demorou a contactar as famílias dos mortos e feridos. Quando o fez, foi apupada e insultada pelos sobreviventes.

Já a rainha Isabel II teve uma atitude diferente. Consciente de que a Grã-Bretanha está traumatizada também por problemas políticos (ataques terroristas, o “brexit”, a falhada aposta de Theresa May em aumentar a sua maioria parlamentar, que passou a maioria apenas relativa, a consequente fraqueza do governo de May, etc.) Isabel II aproximou-se das pessoas. E, com realismo, reconheceu ser difícil evitar no seu país, agora, um estado de espírito muito sombrio.

Comentários
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  • No país da diversão
    19 jun, 2017 Lisboa 19:48
    Neste país da diversão vale quase tudo para desviar a atenção do essencial. Nós estamos em Portugal, não em Inglaterra, e certamente que lá os media falam nisto e portanto não precisam dos media de cá. O que é preciso é que os nossos media em vez de divertirem o povo (já na época dos romanos se dizia que gostavam de pão e circo), exerçam a sua função social falando no que realmente é importante. Eu sei que os media não são livres e portanto só mostram ao povo o que lhes interessa, não o país real como devia ser.
  • Marco Visan
    19 jun, 2017 Lisboa 14:19
    Ora, tinha que vir o Sr. Fernando Silva defender o cronista, claro está. Se um defende políticas do PSD e protege incompetentes que não serviram o país nesta questão dos fogos (Durão Barroso, Passos Coelho, Miguel de Albuquerque), o melhor é fingir um artigo e misturar assuntos que nada têm a ver. A questão levantada por Aleto é muito importante, porque o cronista falha ao dizer: «Claro que se pode e deve sempre melhorar, aprendendo com o que terá falhado, em particular na decisiva área da prevenção.» Na verdade, isto é o que tem sido dito pelos mesmos incompetentes (do partido do cronista) sempre que chegam ao poder, sem que nada seja feito. Parabéns ao Aleto!
  • JP
    19 jun, 2017 Lisboa 13:35
    Bom artigo sem qualquer conotação política. Obrigado dr Cabral.
  • fernando sdilva
    19 jun, 2017 lisboa 10:53
    Completamente descabido o comentário de Aleto. Só cegueira política. Claro que o cronista tem todo o direito de comparar Londres com Portugal. Não se vê ponta de intenção política no seu comentário,já o Sr. Aleto só demonstrou ódio político onde não havia política. E quem é o Sr. para se permitir em nome de todos exigir o afastamento do comentador.Por não ser da sua cor?Grande democrata!!!!!
  • ALETO
    19 jun, 2017 Lisboa 09:14
    É só isto que tem a comentar sobre o caso? Começa com dois parágrafos sobre o incêndio de Pedrógão Grande e dizendo: «Claro que se pode e deve sempre melhorar, aprendendo com o que terá falhado, em particular na decisiva área da prevenção.» Em relação a este facto, o que fizeram os governos da sua cor política (PSD) em relação aos incêndios e ao reordenamento do território. Em 2003, deixaram o país a arder, sem que tivessem conseguido estabelecer um plano, pois o primeiro-ministro também estava de saída. A presidência da Comissão Europeia era mais importante que os desígnios do país. Em 2016, vimos o Funchal a arder como nunca antes. O presidente Miguel Albuquerque (do PSD, seu partido) demorou a tomar a decisão de combate ao fogo. Mostrou-se ineficaz e insensível diante do caos. No final, através de bastante «marketing» lá conseguiu «safar-se» e ficar no poder. Quanto ao incêndio de Londres, se a sua ideia de comentário é dizer que a postura da Rainha inglesa foi mais certa do que a primeira-ministra, essa ideia está errada. Pode também reavaliar o seu lugar de comentador, porque creio que chegou ao fim. Esta sua análise aos acontecimentos revela autêntico desnorte e desgaste.