17 jul, 2017
Morreu Liu Xiaobo, intelectual chinês prémio Nobel da Paz em 2010 (prémio que não foi autorizado a receber na Noruega) e grande lutador pela democracia. O poder político de Pequim também impediu Liu Xiaobo de ir ao estrangeiro tratar o cancro que o vitimou.
As críticas internacionais à falta de respeito dos dirigentes chineses pelos direitos humanos são repudiadas por Pequim, que as considera uma intromissão inaceitável nos assuntos internos da China. Ou seja, apesar de o fulgurante crescimento económico das ultimas décadas ter enriquecido milhões de chineses, parece não haver vontade ou capacidade dessa “burguesia” para exigir direitos cívicos e políticos – ao contrário do que se passou na Revolução Francesa.
Xi Ping, secretário-geral do PC chinês e Presidente da China desde 2012, de quem muitos esperavam alguma abertura política, acabou por tornar ainda mais repressivo o regime daquele enorme país. A abertura quedou-se pela área económica, pela mão do falecido Deng Xiao Ping.
Será que a democracia política representativa não funciona fora dos países ditos ocidentais? É isso que os dirigentes do PC chinês invocam, considerando que se trata de valores estranhos à cultura chinesa. O mesmo dizem do respeito pelos direitos humanos, “uma invenção ocidental”. E têm seguidores, desde Putin a Erdogan, passando pelo “socialismo bolivariano”.
Os chineses têm razões de queixa dos ocidentais, sobretudo dos britânicos, que no séc. XIX os invadiram e humilharam. É uma das raízes do nacionalismo agressivo dos chineses. Eles também não gostam dos americanos, que protegeram Chang Kai-shek na sua luta contra os comunistas. Luta que este perdeu, refugiando-se em Taiwan (Formosa), onde entretanto floresceu uma democracia. Numa sociedade de cultura chinesa...
Mas o ressentimento não justifica tudo. A ideia de que existem traços específicos na cultura da China que afastam os alegados valores ocidentais, como o respeito pelos direitos humanos, é uma desculpa dos dirigentes do partido único chinês para manterem o monopólio do poder e a sua tirania. A não ser que se opte por um relativismo ético inaceitável, uma tentação – essa, sim, ocidental.