14 ago, 2017
A manifestação pela “supremacia branca” em Charlottesville, na Virgínia, incluiu saudações e cânticos nazis. Os judeus (e não só os muçulmanos e os negros) foram alvo do ódio dos autoproclamados defensores dos brancos.
Havia manifestantes armados. Estava lá gente da Ku Klux Klan e bandeiras da confederação sulista, que em 1865 perdeu a guerra civil contra os adversários da escravatura. Aliás, a remoção de uma estátua do general sulista Robert Lee dera o pretexto para a manifestação, que tinha sido ilegalizada pouco antes de começar.
Depois, Trump evitou criticar a extrema-direita. É lamentável, mas compreende-se. A sua eleição impulsionou grupos extremistas adeptos da violência. Quem semeia ventos...
Mas a raiz dos problemas é muito anterior a Trump. O racismo persiste em grande parte dos EUA. Só há cerca de meio século foram eliminadas as leis que, no Sul do país, consagravam a discriminação dos negros. E hoje é notório o racismo de muitos polícias americanos, que não hesitam em disparar quando o suspeito é negro.
Entretanto, há americanos brancos que receiam estar a caminho de serem uma minoria nos EUA. Os hispânicos, uma espécie de brancos de segunda, dentro de anos serão a maioria. Daí, também, a hostilidade aos imigrantes, grande parte deles vindos da América Latina.
Trump surgiu como um salvador para esta gente inquieta. Mas, antes dele, a radicalização de boa parte do partido republicano, como o “tea party” nomeadamente, tinha levado numerosos republicanos para posições extremistas.
O Presidente americano gosta de milionários e de generais; alguns destes generais têm tentado moderar as suas tiradas belicistas. Mas não evitaram que Trump ameaçasse a Venezuela com um possível ataque militar – algo que apenas reforça Maduro e a sua ditadura.
E o “America first” não nasceu com Trump. A ideia de que, tendo vencido a guerra fria, os EUA deviam guiar-se pelo seu interesse imediato, desprezando aliados (como a NATO), organizações internacionais (como a ONU), o direito internacional e os direitos humanos (tortura, por exemplo) foi abertamente defendida por intelectuais americanos, os chamados “neoconservadores”, no tempo de George W. Bush presidente.
Apreciados fora dos EUA – até em Portugal – os “neocons” e quem os apoiou não têm apenas responsabilidades na fatídica invasão do Iraque; eles criaram o enquadramento intelectual para o clima de ódio e violência que marca a América de hoje.