09 jan, 2018
O INE estima que a taxa de desemprego em Novembro último se tinha situado nos 8,2% da população activa, o valor mais baixo desde Dezembro de 2004. A redução do desemprego, estimulada por uma economia que cresce, é sem dúvida um traço positivo da presente conjuntura económica e social.
Mas nem tudo corre bem nessa área, sobretudo se recordarmos os objectivos dos governantes. Estes têm insistido não só em mais empregos, como também em melhores empregos. António Costa e o seu governo mostram-se contrários a políticas de baixos salários, que acusam o executivo anterior de ter prosseguido.
O problema está em que, sendo certo haver agora mais empregos, a maioria dos novos postos de trabalho é pior paga e de carácter mais precário. Ou seja, o contrário daquilo que o Governo desejava e prometia.
Ontem soube-se que Portugal foi o país da UE onde o desemprego jovem mais cresceu entre Setembro e Outubro do ano passado. Já no terceiro trimestre de 2017 se tinha registado um agravamento do desemprego da população jovem em relação ao segundo trimestre.
É certo que, em comparação com anos anteriores, a situação melhorou. Mas não deixa de ser uma preocupante inversão de tendência. Um terço dos jovens continua em Portugal sem emprego, apesar de muitos terem já emigrado.
Na sexta-feira passada, o barómetro do Observatório das Crises e Alternativas, de Coimbra, alertava para que o número de contratos permanentes, sem termo, não aumentou com a recuperação económica.
Mais preocupante: regista-se uma degradação do nível médio dos salários nos novos contratos permanentes. A precariedade cresce. Se bem me lembro, estas tendências negativas já eram apontadas no barómetro de há um ano.
É o resultado natural de a retoma económica se verificar sobretudo em áreas ligadas ao turismo (alojamento, restauração, etc.) e noutros sectores de baixa produtividade e que requerem modestas qualificações.
Decerto que fazer com que Portugal deixe de ser uma economia de baixos salários não é tarefa que se concretize em pouco tempo. Mas importa reconhecer que a tendência em curso é negativa e não positiva.
A propaganda governamental, ao sugerir que já não somos um país de baixos salários, acentua ilusões e atrasa a solução do problema.