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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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As empresas europeias e o Irão

16 mai, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os EUA ameaçam impor sanções a empresas europeias que negoceiem com o Irão. A Europa terá de reagir, retaliando.

Depois de Trump ter rasgado o acordo nuclear com o Irão, três países europeus – Reino Unido, França e Alemanha – declararam que se manteriam no acordo. E Teerão não afastou essa possibilidade, embora a ala mais radical do islamismo xiita iraniano (encabeçada pelo líder supremo, Ali Khamenei) não aprecie positivamente o acordo, negociado pelo presidente da República, o moderado Rohani.

Neste quadro, é altamente improvável que Teerão reforce as garantias dadas em 2015 aos subscritores do acordo.

Mas, ainda que o Irão se entenda com aqueles três países, bem como com os outros que assinaram o acordo, restarão problemas sérios para muitas empresas europeias que têm negociado com entidades do Irão. John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional de Trump, e um conhecido “falcão”, admitiu que os EUA poderão impor sanções a empresas europeias que façam negócios com o Irão.

Será credível que os líderes europeus ameacem retaliar, caso Washington sancione empresas europeias? Não será fácil, até porque ainda não se sabe se Trump retira os aliados europeus das previstas sanções sobre importações de aço e alumínio, decisão que só no fim deste mês deve ser conhecida.

Até lá, essas sanções encontram-se suspensas, mas a incerteza reinante impede quaisquer decisões racionais de investimento por parte de empresas europeias desses dois sectores. Mas a Europa não poderá deixar de reagir, retaliando, se for muito prejudicada pelas sanções dos EUA ao Irão.

As empresas americanas têm muito pouco comércio com o Irão. Já as transações das empresas europeias com aquele país atingiram no ano passado perto de 25 mil milhões de dólares. Daí a afirmação do antigo primeiro-ministro da Suécia, Carl Bildt: “As sanções dos EUA ao Irão quase não afetam empresas americanas, o seu alvo principal são as europeias”. É algo que encaixa bem na antiquada visão mercantilista que Trump tem da economia e no seu desinteresse pelos aliados europeus dos EUA.

Um facto é inegável: as relações transatlânticas atravessam a fase mais crítica desde a criação da NATO, cuja viabilidade começa a ser posta em causa. E não parece possível que os desarmados países europeus possam aguentar-se na cena internacional sem o apoio militar americano, sobretudo na área logística.

Há, ao menos, um ponto positivo: o Reino Unido, que vai sair da UE, tem mantido total solidariedade com a França e a Alemanha nesta questão. É bom, mas não chega.

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