17 jul, 2018
Quando eu era criança, nos finais dos anos 40 do século passado, alguns adultos em Portugal queixavam-se de que o clima estava a mudar. E havia, então, uma “explicação” frequente: o trágico bombardeamento nuclear americano a Hiroshima e Nagasaki, que levou à rendição do Japão na II guerra mundial, era a alegada causa dessas aparentes mudanças climáticas. Compreende-se que fantasias deste tipo tenham promovido um certo ceticismo quanto ao aquecimento global e às mudanças climáticas.
Mas hoje já não é racional negar o aquecimento global nem as mudanças climáticas. Desgraçadamente, o país que mais carbono lança para a atmosfera, os Estados Unidos, tem hoje um presidente que não acredita, ou afirma não acreditar, nessas coisas. Trump nomeou para o departamento governamental do ambiente um cético, um advogado conhecido por processar a agência ambiental que ele iria chefiar. Mas o advogado Scott Pruitt já teve que se demitir, por causa de uma série de escândalos envolvendo os seus gastos pessoais com dinheiros públicos. Trump, porém, mantém a sua linha de orientação: poluam à vontade, que isso das mudanças climáticas é uma mentira para prejudicar a economia americana.
Portugal é afetado pelo abandono do Acordo de Paris por parte dos EUA. O que significa que teremos de redobrar esforços para minimizar, tanto quanto possível, os efeitos negativos das alterações climáticas. Bem os sentimos com os trágicos incêndios do ano passado e com a timidez meteorológica do verão em curso. Aliás, como ontem lembrou o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, na Renascença, o litoral português é o território europeu que sofre a agressão mais violenta das mudanças climáticas.
Também ontem foram anunciados 11 projetos municipais para reduzir o consumo de água em espaços públicos urbanizados, criar mais espaços verdes nas cidades e recuperar áreas ardidas com espécies resistentes ao fogo. Chega? Claro que não. Daí que se aguarde que o plano nacional de adaptação às alterações climáticas seja rapidamente posto em marcha e, sobretudo, que seja eficaz.
As medidas deste tipo são sempre ingratas de tomar pelos políticos. É que os efeitos dessas medidas, na melhor das hipóteses, demoram anos a obter resultados – nessa altura, quem as tomou já provavelmente não estará no cargo. Por isso o ministro do Ambiente, e com ele todo o governo, terão de abdicar de eleitoralismos e cumprir a sua obrigação ética de proteger os portugueses, mesmo que isso não renda votos nas próximas eleições.