16 jul, 2018
Recomeçam hoje, em Bruxelas, as negociações sobre a saída da Grã-Bretanha da UE. Ao novo negociador-chefe da parte britânica, o eurocético Dominic Raab, cabe a difícil tarefa de defender a recente proposta de T. May.
A maior dificuldade está na fragilidade política da primeira-ministra britânica, acentuada pelas várias demissões no seu governo provocadas precisamente por aquela proposta. Decerto que a demissão do anterior ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, foi sobretudo ditada pela sua ânsia de se tornar líder do partido conservador e não decorreu de uma discordância de fundo com a proposta de T. May, aliás aprovada num longo Conselho de Ministros no passado dia 6. Mas isso apenas acentua a complicada situação da primeira-ministra.
Do lado da UE e, em particular, do seu negociador-chefe, Michel Barnier, houve uma reação muito sóbria e limitada, evitando imiscuir-se indiretamente na agitada política interna do Reino Unido. Ao contrário do que, escandalosamente, fez Trump, que criticou a posição de T. May e elogiou o seu “grande amigo” Boris Johnson, personagem excêntrica que Trump considera que daria um excelente primeiro-ministro. Uma inacreditável intromissão na política do país que o recebia, que Trump tentou remediar dizendo o contrário do que a afirmara ao “Sun”, um jornal sensacionalista do amigo R. Murdoch, patrão da “Fox”. Enfim, o costume.
Mas, afinal, o que diz a proposta de Merkel e qual será a previsível resposta de M. Barnier?
Em resumo, May propõe uma zona de comércio livre entre a UE e o Reino Unido, eliminando direitos alfandegários na troca de mercadorias (excluindo, portanto, os serviços, nomeadamente os financeiros). Além disso, avança com um projeto complexo para manter o seu país dentro da união aduaneira, que implica uma pauta exterior comum – de modo a que não seja reintroduzida a fronteira entre a República da Irlanda e o Ulster (Irlanda do Norte).
Ora Michel Barnier avisara mais de uma vez os britânicos de que não seria aceitável terem acesso ao mercado único de bens mas negarem a livre circulação de pessoas e de serviços. Daí que o “acordo de associação” proposto por T. May não deva ser aceite, sem importantes alterações, pela UE. Ora aí volta a pesar a fragilidade política a primeira-ministra britânica: se a proposta que apresentou já foi considerada pelos conservadores eurocéticos uma “rendição a Bruxelas”, como poderá ela fazer mais concessões? A menos que T. May siga o curioso conselho de Trump: não negociar com a UE, mas processá-la em tribunal...
Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, mais uma vez se confirma que é mais difícil negociar com um interlocutor fraco do que com um interlocutor politicamente forte, capaz de fazer as concessões que uma negociação implica. Em Bruxelas já se elaboram planos de contingência para o caso de o Reino Unido sair da UE sem qualquer acordo.
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