23 ago, 2018
A birmanesa Aung San Suu Kyi, filha do herói da independência da Birmânia – que hoje se chama Mianmar – lutou durante décadas, com grande coragem, contra a ditadura militar que dominou o seu país. Por causa disso, viveu 15 anos em prisão domiciliária.
Mas esta semana foi-lhe retirado um dos muitos prémios que recebeu – o prémio Liberdade de Edimburgo. Motivo: a passividade de Aung San Suu Kyi perante a perseguição a que na Birmânia tem sido submetido o povo rohingya. Recusou-se a condenar a violência contra essa minoria. Diz a ONU que a violência contra aquela minoria muçulmana num país de maioria budista corresponde a uma “limpeza étnica”.
Embora sem ser formalmente chefe do governo, esta mulher é, de facto, quem hoje manda na política birmanesa. Mas parece incapaz de se opor eficazmente às forças armadas, que há anos massacram os rohingya. Por isso multiplicam-se os apelos para que lhe seja também retirado o Prémio Nobel da Paz, que recebeu em 1991, quando ainda estava presa; antes, em 1990, o Parlamento Europeu atribui-lhe o prémio Sakharov, que distingue a liberdade de pensamento. Escreve o jornal britânico “The Guardian” que Aung San Suu Kyi no último ano perdeu sete distinções honoríficas no Reino Unido.
O que levará uma pessoa a renegar implicitamente o seu passado de coragem e frontalidade? Admito que Aung San Suu Kyi seja impotente para travar a tendência sanguinária dos militares; ou que, por eventuais motivos familiares (ser filha de um herói, por exemplo), não queira hostilizar publicamente as forças armadas. Mas, então, porque não abandona o palco político, remetendo-se ao silêncio numa vida privada e recolhida? Francamente, não entendo como esta figura, até há pouco campeã dos direitos humanos e da liberdade, e agora cúmplice, pela sua apatia, de crimes contra a humanidade. É um mistério.