26 set, 2018
O futuro de Theresa May e do próprio Brexit dependerá, em boa parte, do que se passar na conferência anual do partido conservador, durante a próxima semana. A primeira-ministra britânica esperava apresentar ali com um princípio de solução para a fase de transição da saída britânica da UE, saída que será efetiva a 29 de março de 2019, com ou sem acordo. Mas na cimeira informal de Salzburgo, há 6 dias, os ainda parceiros europeus do Reino Unido rejeitaram a proposta de May, conhecida há semanas. Esta queixa-se, com alguma razão, que a UE deveria ter apresentado alternativas. Só que parece insolúvel o problema da fronteira entre a República da Irlanda e o Ulster (Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido).
Como se sabe, manter essa fronteira aberta fez parte do acordo de paz no Ulster, obtido há vinte anos. Ora como poderá isso acontecer se T. May quer ficar fora do mercado único, exceto para o comércio de mercadorias? Naturalmente que para Londres é inaceitável criar uma fonteira no interior do Reino Unido. E os países que se mantem na UE não apenas estão unidos (ao contrário do que acontece no partido conservador britânico e no próprio governo de May) como estão solidários com a República da Irlanda, que será altamente prejudicada se a tal fronteira com o Ulster for restaurada.
Ora May terá dito, em Salzburgo, ao primeiro-ministro irlandês que não haveria acordo sobre esta matéria na cimeira da UE em outubro. Terá sido esta intransigência que, segundo o Irish Times, levou Michel Barnier, o negociador-chefe por parte da UE, bem como outros líderes europeus, a tomarem uma atitude dura face às pretensões britânicas.
O Brexit resulta de um referendo em junho de 2016, convocado pelo então primeiro-ministro Cameron, convencido de que ganharia a opção por ficar na UE. Mas ganhou a saída da UE; Cameron demitiu-se, sucedendo-lhe uma política não particularmente hábil, Theresa May, que tem conduzido o processo de forma criticável – e altamente criticada, sobretudo pelos seus colegas de partido. Até os adeptos da saída não esperavam ganhar – em parte por isso, nada estava em Londres estudado e preparado para uma tal decisão.
O Brexit tornou-se, assim, uma sucessão de erros. Infelizmente, a hipótese de um novo referendo que revertesse o resultado do referendo de há dois anos parece altamente improvável, embora um pouco menos do que há uns meses.
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