08 out, 2018
A primeira-ministra britânica Theresa May dançou perante o congresso do partido conservador, antes de iniciar o seu discurso de encerramento. Foi alvo de muita troça por causa disso, mas o facto é que ela não foi “apeada” do seu cargo, como pretendiam inúmeros seus colegas de partido e até de governo. A política britânica encontra-se num verdadeiro pandemónio, que parecia impensável no país que inventou a democracia liberal moderna.
Depois da recepção gelada da UE, na cimeira informal de Salzburgo no final de Setembro, à proposta de May para o acordo de transição do “brexit”, há dois dias o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou-se optimista quanto à possibilidade de se encontrar um entendimento entre a UE e o Reino Unido já nas próximas duas semanas. E de esse acordo vir a ser aprovado numa cimeira europeia em Novembro.
Será uma reação às críticas de que a UE teria sem justificação humilhado May em Salzburgo e de que era responsabilidade do negociador-chefe da UE, Michel Barnier, apresentar contra-propostas às ideias da primeira-ministra? Talvez. Mas não é impossível que tenham depois surgido algumas contra-propostas da UE, pois a perspetiva de o Reino Unido abandonar a Europa comunitária sem qualquer acordo é muito negativa para as duas partes, embora mais para os britânicos. Tanto a UE como o Reino Unido aceleraram entretanto preparativos para limitar tanto quanto possível os prejuízos de um “hard brexit”, caso aconteça. Mas essa é uma questão de elementar prudência.
Infelizmente, não se vê como, sendo a conhecida proposta de T. May violentamente criticada por uma parte do seu partido (que a considera demasiado “europeísta”), possa vir a ser aprovado em Londres um texto onde May faça mais concessões à UE. E continua a não existir uma solução para manter aberta a fronteira entre a República da Irlanda e o Ulster (Irlanda do Norte), uma vez que o Reino Unido sairá do mercado único europeu.
O problema começou por ser pretensamente resolvido com frases contraditórias, para ganhar tempo (uma prática habitual em Bruxelas); mas voltar a fechar aquela fronteira porá em causa o acordo de paz obtido há vinte anos entre protestantes e católicos do Ulster. Não ajuda o facto que T. May ter insensatamente provocado eleições para reforçar a sua maioria na Câmara dos Comuns – acabando por perder essa maioria. É que o governo de T. May depende agora do apoio parlamentar do partido pró-britânico do Ulster, que não parece muito preocupado com a paz no seu território.