13 out, 2018
Esta semana na bolsa de Nova York (Wall Street) deu-se uma forte queda na cotação da maioria das ações, queda que depois alastrou às bolsas asiáticas e europeias, incluindo a bolsa de Lisboa. Na sexta-feira as coisas acalmaram, mas entretanto vários negócios tiveram que ser suprimidos ou adiados. Em Portugal foi o caso da Sonae, que pretendia distribuir em bolsa parte do capital da empresa de distribuição dona do Continente.
Estaremos nas vésperas de uma grave crise económica mundial? Julgo que não, embora seja inevitável um abrandamento do crescimento económico global, dado o clima de protecionismo que, por iniciativa de Trump, se instalou. Clima que, além do mais, gera incerteza – a grande inimiga do investimento empresarial.
Digo “além do mais” porque várias empresas americanas se queixaram, há dias, das barreiras alfandegárias erguidas pelos EUA às importações vindas da China. É que essas barreiras estão a afetar a atividade empresarial nos EUA, em vários setores. O que não espanta, numa era de globalização e de repartição por vários países da produção de componentes de bens e serviços.
A razão óbvia da quebra em Wall Street é o simples facto de ali se ter registado, desde 2009, uma subida quase constante. Ora quando as altas bolsistas se prolongam, é certo e sabido que mais tarde ou mais cedo haverá um recuo – uma correção, como dizem os investidores bolsistas. Para alguns observadores, a correção desta semana só pecou por tardia. Note-se que não foram afetadas apenas as ações. Os títulos da dívida pública dos EUA, considerada a aplicação mais segura do mundo, viram subir os respetivos juros; a dez anos, a dívida americana pagou 3,2 %, bem acima do que a dívida portuguesa paga – cerca de 2%.
A Fed estará louca?
A subida dos juros pelo banco central americano, a Reserva Federal (Fed), foi violentamente criticada pelo presidente Trump, que repetidamente apontava a alta na bolsa como prova da excelência da política económica do seu governo. A economia americana até revela um comportamento satisfatório, com o desemprego a descer graças a um razoável crescimento do PIB. Mas é ilusório avaliar o desempenho económico de um país com base nos índices das bolsas.
É certo que, em inúmeras ocasiões, anteriores presidentes dos EUA se mostraram desagradados com subidas de juros pela Fed, que encarecem o crédito às empresas. Tal como quase todos os bancos centrais dos países desenvolvidos, a Fed é independente do poder político. Mas Trump empregou o seu estilo muito pessoal ao afirmar: “A Fed está a cometer um erro. Eles são tacanhos. Penso que a Fed ficou louca”.
Ora a subida dos juros da Fed foi inúmeras vezes prevista e anunciada, tendo-se concretizado em pequenas e prudentes subidas (agora a ritmo trimestral); as principais críticas de que a Fed tem sido alvo acusam-na de seguir uma política monetária demasiado expansionista, com uma subida de juros… demasiado lenta. Economistas conservadores contestaram o programa da Fed de comprar títulos com dinheiro lançado por ela, a partir de 2008, o chamado “quantitative easing”, que já terminou. Aplicado no Japão no fim do séc. XX, este programa foi seguido por outros bancos centrais, como o BCE. Aqueles economistas acusaram também as taxas de juro próximas de zero que a Fed adotou há anos, para combater a ameaça de deflação. Essas medidas, segundo os críticos, iriam a médio prazo gerar inflação – o que não se confirmou. Aliás, vários banqueiros centrais de outros países e a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, apressaram-se agora a apoiar a Fed, distanciando-se de Trump.
Por outro lado, é de notar que as ações que mais caíram em Wall Street na quarta-feira pertenciam a conhecidos gigantes tecnológicos – Facebook, Google, Amazon, Apple, etc. Têm vindo a público vários problemas envolvendo o Facebook, por exemplo. E aumentou na opinião pública a consciência de que estas empresas, hoje as mais ricas do mundo, detém um excessivo poder, que se traduz em menor concorrência no mercado, logo, em prejuízos para os consumidores. A prazo mais ou menos curto espera-se que sejam tomadas medidas para travar esse poder excessivo.
Europa
A Europa também contribuiu para reforçar preocupações. O desafio que o governo populista italiano lançou à Comissão Europeia e às regras da moeda única arrisca-se a acabar mal. A zona euro ainda não completou as reformas de que precisa e o euro pode ser posto em causa pela Itália. A Turquia atravessa uma perigosa crise nas suas contas externas.
E permanecem as incertezas sobre o “brexit”, apesar de, aparentemente, ter havido alguma convergência nas negociações curso; só que, mesmo que a UE e o governo de T. May consigam um entendimento, nada garante que os conservadores britânicos mais opostos à integração europeia o deixem passar. Além de que T. May só tem uma maioria na Câmara dos Comuns graças ao apoio do partido dos protestantes pró-britânicos do Ulster (Irlanda do Norte, parte do Reino Unido)
A conjuntura económica internacional não está famosa, o que não ajuda Portugal. Daí a necessidade de prudência orçamental.