26 nov, 2018
A primeira-ministra britânica e os líderes dos outros 27 Estados-membros da UE assinaram ontem, em Bruxelas, o acordo “de divórcio”, bem como uma declaração política, sem valor jurídico, sobre as futuras relações entre as duas partes. Como tem sido amplamente noticiado e comentado, os grandes problemas da negociação foram - e continuam a ser - os desentendimentos entre os britânicos. Tem sido menos notado o notável consenso que Michel Barnier, negociador-chefe do lado da UE, conseguiu manter entre os 27 países que permanecem na Europa comunitária.
É provável que o último problema ultrapassado - a recusa do primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez de não assinar o acordo, inviabilizando-o, por causa de Gibraltar - tenha sido uma tentativa de M. Barnier para facilitar a T. May a aceitação do acordo no Reino Unido. E P. Sanchez, certamente, também tinha na cabeça as eleições regionais na Andaluzia, realizadas ontem.
A verdade é que, da parte da UE, a negociação foi inesperadamente pacífica. Contra o que alguns receavam, não houve ultimatos da Itália, recusando aprovar o acordo na condição de a Comissão Europeia suspender o procedimento por défice excessivo. Nem condicionamentos por parte da Hungria ou da Polónia, cujas “democracias iliberais” estão sob o ataque de instâncias comunitárias. E muito menos a saída britânica incitou quaisquer outros Estados membros a seguirem esse caminho.
É que o acordo nunca poderia ser muito favorável aos britânicos, para não suscitar tentações. T. May tem razão quando diz ser impossível modificar o acordo. E se a Câmara dos Comuns não o ratificar, como parece provável?
Fala-se na possibilidade de um novo referendo. Talvez seja o menor dos males, mas tem vários inconvenientes. Em primeiro lugar, não é possível garantir que num segundo referendo uma maioria vote por permanecer na UE (o anterior primeiro-ministro britânico, D. Cameron, apostou nisso e enganou-se...). Depois, ainda que o Brexit seja eliminado, manter-se-á na Grã-Bretanha uma importante minoria que se sentirá traída, reforçando a hostilidade britânica à integração europeia. Mas Londres colocou-se numa tal situação de bloqueio, que talvez um novo referendo seja a única saída.
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