06 dez, 2018
Nos anos mais difíceis do resgate financeiro do país, que nos trouxe a “troika” e a consequente austeridade, os exportadores nacionais surpreenderam toda a gente com uma inesperada capacidade para aumentarem as suas vendas ao estrangeiro, conquistando quotas de mercado. O consumo interno contraiu-se com a crise, obrigando numerosos empresários a procurarem mercados alternativos no exterior. E muitos deles tiveram sucesso.
A estes autênticos “heróis” da economia portuguesa juntou-se o grande crescimento do turismo estrangeiro, que hoje é tanto que suscita queixas (algumas das quais razoáveis). O desequilíbrio das contas externas de Portugal, que chegou a ultrapassar 10% do PIB no tempo da quase bancarrota do Estado, transformou-se em excedente, graças à exportação e ao turismo.
Ora nas exportações as coisas parecem começar a correr menos bem. O turismo vai de vento em popa, mas o INE revelou que, no acumulado entre janeiro e setembro, as exportações caíram quase 1%. No terceiro trimestre deste ano as exportações desceram 3,6% em relação ao trimestre anterior.
Alguns fatores internos contribuíram para este comportamento negativo. As greves dos estivadores no porto de Setúbal, por exemplo. O baixo nível de investimento, público e privado, também não ajudou as empresas exportadoras.
Porventura mais importantes foram os fatores externos, tão mais preocupantes quanto eles não dão sinais de desaparecerem do horizonte. O crescimento económico da UE abrandou – e para ali vão três quartos das exportações portuguesas. O Brexit trava essas exportações e travará muito mais se for concretizado sem “acordo de divórcio”. O protecionismo trazido por Trump à economia mundial é outro obstáculo às vendas externas de bens portugueses; muita gente duvida de que, depois da trégua de 90 dias negociada entre Trump e Xi Jinping, seja posto fim à guerra comercial entre os EUA e a China. E a instabilidade política em Espanha poderá afetar a procura de mercadorias portuguesas naquele que é o nosso principal mercado.
Graças ao turismo, as contas externas portuguesas não voltaram ainda ao vermelho. Mas passaram de um excedente de 11476 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2017 para apenas 436 milhões em igual período do corrente ano. Assim, não faltam motivos para seguir com cuidado a evolução das exportações portuguesas nos próximos tempos.