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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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A Venezuela em transe

28 jan, 2019 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A crise na Venezuela não se resolve com intervenções militares externas. Tudo irá depender das forças armadas do país. Entretanto Maduro deu alguns pequenos sinais de encarar uma solução negociada.

A UE fez saber que, se Nicolas Maduro não realizar eleições livres no mais breve prazo possível, reconhecerá Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional ilegalmente afastada por Maduro, como presidente legítimo da Venezuela. Para Portugal, Espanha, França e Alemanha, pelo menos, esse prazo é de uma semana.

Tal “ultimato”, logo rejeitado por Maduro, foi considerado por alguns como um sinal de fraqueza da Europa comunitária. Mas evitam dizer qual seria a resposta “forte”. Mais sanções, que prejudicariam sobretudo a população venezuelana, já tão massacrada, enquanto a corte político-militar de Maduro continuaria a viver bem? Uma intervenção militar, para a qual a UE não possui os meios?

Uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela, além de provocar uma guerra civil e um banho de sangue, permitiria aos partidários do “socialismo bolivariano”, dentro e fora da Venezuela, manter a ideia de que todos os males de que sofre aquele país e a América Latina são obra dos americanos. É o que acontece em Cuba, por causa do embargo imposto por Washington há quase 70 anos.

Convém lembrar que as invasões soviéticas da Hungria (1956) e da Checoslováquia (1968), que chocaram profundamente o mundo, não foram combatidas militarmente pela NATO. É que uma tal resposta envolveria a probabilidade de uma guerra nuclear.

O isolamento político de Maduro na cena internacional é positivo. E o facto de este não ter ainda – que se saiba – desencadeado uma caça feroz aos seus opositores internos permite alguma esperança. Maduro cortou relações diplomáticas com os EUA e deu aos diplomatas americanos 72 horas para abandonarem o país; mas agora o prazo passou para um mês, o que permite pensar que ele quer tempo para negociar alguma coisa.

Como é evidente, tudo irá depender dos militares venezuelanos. Hugo Chavez, um ex-militar, e o seu sucessor Nicolas Maduro deram tudo às forças armadas, assim as comprando. Mas pode ser que haja núcleos militares na Venezuela insatisfeitos com a desgraça económica, social e política a que chegou o seu país; já de lá fugiram mais de 3 milhões de pessoas. O adido militar da embaixada da Venezuela em Washington, um coronel, declarou apoiar o presidente do parlamento, contra Maduro - mas é curto.

Talvez seja demasiado optimismo, mas não resisto a recordar que, em março de 1974, após o falhado “golpe das Caldas”, os generais das Forças Armadas portuguesas foram manifestar o seu apoio incondicional a Marcelo Caetano e à "defesa do Ultramar". Ficou conhecido esse grupo de altas patentes militares como “a brigada do reumático”. Um mês depois, estava na rua a revolta militar do 25 de Abril, que pôs fim ao regime ditatorial que mandou em Portugal desde 1926 e acabou com o império colonial.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

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