25 mar, 2019
Na madrugada de sexta-feira passada as três empresas espanholas proprietárias da central nuclear de Almaraz chegaram a acordo para solicitar ao governo de Madrid mais um alargamento do prazo de funcionamento da central. Segundo o diário “El País”, o governo espanhol serviu de medianeiro para ultrapassar as divergências entre as três empresas – Iberdrola, Endesa e Naturgy. O que faz prever que o governo aceitará o pedido de prorrogação.
Inicialmente, o prazo de validade da central nuclear de Almaraz era até 2010, mas o seu funcionamento foi alargado até 8 de junho de 2020. Se a solicitação das três empresas for aceite, o fim da central ocorrerá apenas em 2027-28 – isto, se não houver outro novo adiamento.
Esta notícia teve modesta repercussão em Portugal. No entanto, Almaraz é um perigo para o nosso país, pois situa-se à beira do Tejo, a cerca de cem quilómetros da fronteira portuguesa. Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, manifestou a sua preocupação à Renascença, pois um acidente grave que ocorra na central de Almaraz terá efeitos em Portugal. E solicitou ao governo português que tome uma atitude, o que até agora não aconteceu. Para F. Ferreira, prolongar quatro anos além do previsto o funcionamento daquela central nuclear será dramático.
As populações portuguesas mais vulneráveis a um eventual desastre naquela central situam-se, naturalmente, no interior, próximo do rio Tejo e da fronteira. Mas o interior está em rápida desertificação, tem poucos votos...
Outra manifestação do desinteresse governamental pelo interior – apesar de belos discursos de apoio ao interior – está na forte redução do preço dos passes de transportes coletivos. Afinal havia dinheiro, mas não para salvar o Serviço Nacional de Saúde ou o caminho de ferro.
Esta decisão, descaradamente eleitoralista, é para todo o país, lembra o primeiro-ministro, e não só para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Acontece que a maioria da população se concentra nessas áreas. E portanto teremos pessoas do interior, muitas das quais não têm acesso a transportes coletivos, a financiar os transportes de pessoas das zonas mais populosas, no litoral.
Quanto a Lisboa e Porto, aliás, os contribuintes portugueses que vivem noutras regiões há muito que financiam boa parte dos transportes coletivos das duas maiores cidades portuguesas, o que não acontece em qualquer outra cidade do país.
Assim se acelera a desertificação do interior.