17 jun, 2019
Não é do interesse de Salvini deitar já abaixo o governo italiano de coligação da Liga com o movimento 5 Estrelas. Mas parece difícil que a coligação se mantenha durante muito mais tempo.
Salvini quer uma taxa única (“flat tax”) para o IRS de apenas 15%, enquanto Di Maio, líder do 5 Estrelas, pretende subir as despesas sociais. Estas orientações financeiras contraditórias agudizam o conflito com Bruxelas em torno do défice orçamental e da dívida.
O primeiro-ministro, G. Conte, e o ministro da Economia, G. Tria, ambos independentes, esforçam-se por alcançar um compromisso com a Comissão Europeia. Mas quem manda é Salvini, que triunfou nas eleições para o Parlamento Europeu.
Salvini, um “nacionalista” que ainda há poucos anos queria dividir a Itália em dois países, assume-se também como líder da maioria dos governos e partidos eurocéticos europeus. A principal causa comum dessas forças é a luta feroz contra a imigração.
Como aqui tenho referido, a Itália, assim como a Grécia, não foram ajudadas pelos seus parceiros na UE a lidar com a grande vaga de refugiados e migrantes que conseguiam atravessar o Mediterrâneo. Mas tal injustiça não justifica a brutalidade das medidas impostas por Salvini para impedir a entrada em Itália dessas pessoas.
No final de 2018 Salvini fez aprovar uma lei que acaba com as autorizações de residência por razões humanitárias. E as missões de resgate no mar foram criminalizadas.
Por isso muita gente poderá ir para a prisão, com uma pena de 20 anos, por ter por salvo da morte pessoas em risco de afogamento no Mediterrâneo. É o caso de português, Miguel Duarte, que estava a preparar um doutoramento em matemática, mas que sentiu o apelo moral ir para uma embarcação de resgate. “Faria tudo outra vez, porque fizemos bem – salvar pessoas é o que está certo”.
Outra pessoa ameaçada de prisão é a alemã Pia Kemp. Ela alega que o direito internacional do mar atribui prioridade a salvar pessoas. “Recuso-me a aceitar, diz ela, que vivemos numa Europa onde uma pessoa pode ir parar à cadeia por salvar vidas”.
Salvini gosta de ostentar um crucifixo em público e afirma querer preservar a tradição cristã na Europa. Mas aparenta ainda não se ter dado conta de que a desumanidade das suas medidas anti-imigração ofendem frontalmente o Evangelho cristão. Uma contradição também partilhada por aqueles que, dizendo-se católicos, combatem o Papa Francisco e apoiam a brutalidade de Salvini.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus