20 ago, 2019
Nas últimas cinco semanas não se falou em Portugal de outra coisa que não fosse a greve dos motoristas de matérias perigosas – motoristas de camiões, claro. Aparentemente, ninguém se lembrou do caminho de ferro.
No domingo passado, porém, um artigo de Carlos Cipriano no “Público”, intitulado “Governo ignorou ferrovia como alternativa aos camionistas”, veio evidenciar a fraca importância que – na prática, não nas palavras – o governo e a própria sociedade portuguesa atribuem ao transporte ferroviário, sobretudo de mercadorias.
Graças a esse artigo, fiquei a saber que o país dispõe de uma frota de vagões-cisterna destinada ao transporte de combustíveis, frota que está operacional. Pois nem a CP usa esse meio para abastecer as suas locomotivas a diesel – isto porque a CP não está hoje licenciada para transportar mercadorias, só podendo transportar passageiros.
Mas existem empresas privadas que transportam ou podem transportar combustíveis pela ferrovia. A Medway, por exemplo, dispõe de vagões e de “know-how” especializados para esse tipo de transporte. E uma outra empresa, a Takargo, até o efetua: todos os dias um comboio leva “jet fuel” (o combustível dos aviões) da refinaria de Sines a Loulé e daí para aeroporto do Algarve em camiões. Esta operação, em que cada comboio evita a circulação diária na estrada de 25 camiões, decorre desde há cinco anos…
Essa é a única linha de caminho de ferro que transporta derivados do petróleo no país. Mas podia e devia haver muitas outras, à semelhança do que acontece em Espanha. O presidente da Medway disse ao “Público” que o caminho de ferro poderia assegurar o fornecimento de grandes quantidades de gasóleo e gasolina desde Sines a qualquer ponto da rede ferroviária, sendo depois o transporte complementado por camiões.
Além do mais, seria uma maneira de evitar poluição. Mas é endémico entre nós esquecermos o caminho de ferro.