30 set, 2019
Acentuam-se os problemas da economia alemã, que provavelmente já entrou em recessão. A produção industrial da RFA sofreu a maior queda desde 2009, muito por causa de serem fabricados menos carros. E nos serviços nota-se também alguma diminuição dos negócios.
Dir-se-ia, assim, que o BCE, ainda com Draghi, fez bem em anunciar no passado dia 12 o regresso às compras de títulos de dívida pública de países da zona euro, bem como às descidas das taxas de juro (que já estavam a um nível historicamente baixíssimo). Ora levantam-se aqui dois problemas.
O primeiro é que não se vê, da parte dos governos da zona euro e em particular do governo alemão, qualquer empenho sério em lançar estímulos fiscais significativos e em aumentar as despesas públicas de investimento – apesar de algumas afirmações que levantaram esperanças há semanas. Ora Draghi reclama há sete anos que a política monetária do BCE não pode fazer tudo para relançar a economia, sendo indispensável a intervenção da política orçamental dos países que têm condições para o fazer. Mas não é ouvido em Berlim, pelo menos.
Mais grave, as medidas monetárias não convencionais que Draghi lançou desde o verão de 2012, e que nunca foram bem vistas pelo banco central alemão, começam a ser publicamente contestadas no interior do próprio BCE. Na quarta-feira passada demitiu-se uma senhora alemã, Sabine Lautenschlaeger, que fazia parte da comissão executiva do Banco, por discordar do pacote de medidas anunciadas por Draghi. E vários governadores de bancos centrais do euro, incluindo o de França, manifestaram dúvidas sobre os estímulos de Draghi.
Christine Lagarde sucede a Draghi na presidência do BCE a 1 de novembro; há semanas tornou público o seu apoio à política monetária de Draghi. Mas esta advogada francesa, várias vezes ministra (incluindo das Finanças) não tem o prestígio académico de Mário Draghi em matéria de política monetária.
Decerto que Lagarde foi durante oito anos diretora-geral do FMI. Mas nessa qualidade pareceu atuar, certamente com inteligência, mas mais como uma “relações públicas” do Fundo do que como uma pessoa com forte influência nas decisões da instituição. Aguardemos.
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