25 nov, 2019
Celebrar o 25 de novembro de 1975 incomoda a extrema-esquerda. É natural: o que então aconteceu evitou que o país fosse submetido a nova ditadura, desta vez supostamente “do proletariado” - era preciso, diziam, “quebrar a espinha à burguesia”. Entretanto, os radicais de esquerda parece pouco ou nada terem aprendido com o que se passou com o comunismo soviético ou com o trágico maoismo chinês.
Mais estranha foi a abstenção do PS, no Parlamento, a um voto de saudação ao 25 de novembro proposto pelo CDS, voto chumbado, apesar de sete deputados socialistas terem apoiado a proposta. Mas não foram Mário Soares e o PS o grande obstáculo político à deriva totalitária da extrema esquerda (o obstáculo militar centrou-se em Eanes e nos militares do chamado “grupo dos nove”)?
Claro que foram. Mas o PS atual, com honrosas exceções, está mais virado para a esquerda, incluindo a mais extrema e menos democrática. Quanto à extrema direita, que com o Chega começa a levantar a cabeça, descobriu que o 25 de novembro lhe poderia render clientela.
A esse propósito escreveu aqui Graça Franco: “O Senhor Chega não pode chegar, assim de repente, e reivindicar para si, como quem não quer a coisa, a mais importante vitória do pós-25 de abril (o 25 de novembro). É caso para dizer que chegou tarde demais a esta luta que, não sendo de todos, foi de muitos mais do que o Chega parece querer fazer crer e gostaria que tivesse sido”. E mais adiante: “O senhor Chega quer comemorar a ação dos Comandos no 25 de novembro? É justo. Mas talvez baste comemorá-la no próprio 25 de abril. Aí juntos os militares salvaram a Pátria. Depois, evitaram apenas uma nova recaída”.
Curiosamente, os dirigentes do Chega e do Partido Nacional Renovador apareceram na manifestação de polícias e guardas republicanos vestindo a camisola branca dos manifestantes radicais. Os tais que voltam as costas aos políticos, incluindo à Assembleia da República e ao Presidente Marcelo. Gente que tanto diz prezar a autoridade do Estado, de preferência ditatorial, não hesita em a desafiar para conquistar adeptos entre as forças de segurança.
O líder do Chega até discursou na manifestação, suscitando o desagrado da associação da GNR. E o líder do PNR evocou aos jornalistas, entre outros movimentos do seu agrado, os apoios no Brasil a Bolsonaro, um ardente defensor da ditadura militar e da tortura.
O fascismo do séc. XXI não é muito diferente do fascismo do séc. XX.