10 fev, 2020
Na passada sexta-feira o Governo divulgou os seus projetos quanto à instalação, em Portugal, da quinta geração de redes móveis (5G). E seguiu a orientação dos países europeus de não excluírem, à partida, a empresa chinesa Huawei, nem qualquer outro fornecedor, da nova tecnologia - mas tomarem precauções.
No caso português, as medidas concretas para impedir que a segurança e a integridade das redes sejam violadas por eventuais ações de espionagem serão propostas por um grupo de trabalho a constituir e que funcionará em permanência. Quer isto dizer que Portugal, tal como os seus parceiros da UE, não rejeita a participação da Huawei, embora certamente limitada. E não quer ter apenas um único fornecedor no 5G nacional, o que é sensato.
No ano passado um em cada cinco “smartphones” vendidos em Portugal um foi fabricado pela Huawei. Nesta empresa trabalham cerca de 130 pessoas no nosso país – e em breve serão mais.
Os EUA têm pressionado os outros países para que rejeitem qualquer participação desta grande empresa chinesa nas suas redes móveis. A Austrália seguiu o desejo americano – mas o Reino Unido, agora com um pé fora da Europa comunitária, tomou uma posição próxima daquela adoptada pelos Estados membros da UE: não fecha a porta à Huawei na construção da nova rede, mas exclui a empresa de sectores sensíveis da rede; a Huawei poderá participar em apenas 35% da rede do Reino Unido. Entretanto a multinacional britânica Vodafone, a segunda maior operadora mundial de redes móveis, anunciou que iria remover os equipamentos fabricados pela Huawei dos núcleos centrais das suas redes na Europa.
Apesar das restrições britânicas à Huawei no 5G, Trump fez um telefonema furibundo ao primeiro-ministro, Boris Johnson, por este não ter acatado a orientação americana, de exclusão total. Mas, desde que sejam tomadas as precauções adequadas, é razoável que os europeus queiram aproveitar o preço relativamente baixo da Huawei e a qualidade avançada da tecnologia da empresa, o maior investidor mundial neste sector.
A Huawei é uma empresa privada; mas, na China, uma empresa apenas pode atingir a dimensão da Huawei se mantiver estreitas relações com o poder político, o partido comunista chinês. Daí o risco de espionagem tecnológica. Como já aqui referi, o problema coloca-se, em geral, ao investimento direto chinês em Portugal, mas as telecomunicações são uma área particularmente sensível.
Neste compreensível empenho por termos em Portugal a quinta geração de redes móveis convém não esquecer que a quarta geração ainda não cobre todo o território nacional. Há entidades importantes, como escolas, que não são ainda abrangidas. Um atraso que não deve ser tolerado por mais tempo.