26 fev, 2020
Não surpreenderam os resultados das eleições no Irão – vitória das forças políticas mais fundamentalistas e avessas a reformas. A teocracia islâmica sunita saiu reforçada, como era de esperar.
A derrota dos moderados explica-se, em parte, pelo facto de muitos deles – mais de metade dos moderados que se pré-candidataram - terem sido impedidos de ir a votos pelo poder teocrático. Não foram eleições livres e justas.
Mas não há dúvida de que o apoio dos iranianos a políticos moderados diminuiu muito com o abandono dos EUA do acordo nuclear de 2015. Quem liderou as negociações para esse acordo, do lado do Irão, foi o presidente Rohani, um moderado cuja cotação está agora em baixa.
Os iranianos esperavam que aquele acordo melhorasse a sua vida económica. Mas como Trump o rasgou e impôs duríssimas sanções económicas ao Irão, o país encontra-se em forte recessão. E recentemente os EUA mataram o coordenador das ações terroristas no exterior do país, patrocinadas pelo Irão.
Há dois meses houve grandes manifestações no Irão contra a subida do preço dos combustíveis. Depois, muitos iranianos protestaram contra o trágico engano que levou ao abate de um avião comercial ucraniano, confundido com um míssil. Agora, quando o Irão é um dos países exteriores à China mais atingidos pelo corona vírus, reina a desconfiança nas informações que o poder político do país presta sobre o assunto.
Mas nada disto se refletiu significativamente nas recentes eleições pouco democráticas. Quando muito, terá contribuído para a forte abstenção registada (57%).Rohani é alvo, hoje, da frustração do povo iraniano.
Foi reforçado o poder da maior autoridade do país, o “ayatollah” Ali Kamenei, que nunca apreciou o tal acordo nuclear e anunciou intensificar a luta contra os americanos. De notar que, apesar da crise económica que o Irão atravessa, as suas despesas militares não diminuíram. Prioridade à bomba nuclear, portanto.