Em 2019, pela primeira vez numa década, o comércio internacional foi menor do que no ano anterior. Ainda não havia coronavírus, mas o protecionismo e as guerras comerciais já se faziam sentir. Com o coronavírus, 2020 será certamente bem pior.
As preocupações com o coronavírus - que ainda pode chegar a pandemia, uma epidemia mundial – têm levado a fortes quedas nas bolsas. Mas o economista Nouriel Roubini, um dos poucos que previram a crise financeira global de 2007-2008, julga que os mercados estão insuficientemente pessimistas sobre as perspetivas económicas decorrentes desta crise de saúde pública. “O pior ainda está para vir”, escreveu Roubini no “Financial Times” de ontem.
Para Portugal, os efeitos na quebra no turismo internacional serão provavelmente os mais graves, ameaçando as nossas contas externas. Não se trata, apenas, de os turistas chineses deixarem de vir ao nosso país; a tendência geral, perante o coronavírus, é de menos viagens, a começar pelas turísticas. Até nos EUA, por enquanto pouco afetados pelo vírus, já se nota alguma relutância em viajar, sobretudo para o estrangeiro.
Depois, as paralisações de fábricas na China, e noutros países onde os casos de infeção pelo coronavírus se multiplicam, quebram inúmeras cadeias internacionais de produção, levando a que outras fábricas – como algumas em Portugal – tenham de reduzir ou mesmo de suspender a sua atividade, por falta de peças, componentes e matéria-prima.
A China representa, hoje, um quinto do PIB mundial; em 2003, quando da epidemia “SARS”, a China representava apenas 4% daquele PIB. Agora é a segunda economia mundial e o primeiro exportador.
A gravidade da possível recessão económica global provocada pelo coronavírus tem a ver, também, com as dúvidas sobre a eficácia das possíveis medidas de relançamento. Os bancos estão hoje mais saudáveis do que há vinte anos, mas o fortalecimento do sistema bancário na Europa ficou aquém das expectativas.
Mais importante, os bancos centrais desceram muito as suas taxas de juro diretoras, por isso não dispõem, agora, de uma razoável margem para estimular a atividade económica. E vários países que estão em condições orçamentais de os respetivos Estados abrirem os cordões à bolsa, como os Países Baixos e sobretudo a Alemanha, provavelmente não o farão em escala significativa, por motivações ideológicas – agravadas, na Alemanha, pela profunda crise que o partido de Merkel está a atravessar. Quanto à UE, com o seu pequeno orçamento, pouco poderá ajudar a relançar uma economia europeia estagnada, se não for em recessão.