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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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O populismo e o vírus

24 mar, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Apesar dos trágicos números de vítimas do vírus em Itália, as sondagens em Itália dão 62% a 71% de apoio ao governo de Conte.

Apesar dos trágicos números de vítimas do vírus, as sondagens em Itália mostram apoio ao governo de Giuseppe Conte. A pandemia não beneficiou o populismo. Pode ser um fenómeno temporário, mas é um alívio.

Quando o coronavírus começou a manifestar-se em Itália com excecional virulência, sobretudo na Lombardia, receei que o governo de Giuseppe Conte não durasse muito mais tempo. Conte tinha sido primeiro-ministro do governo da Liga, de Matteo Salvini, e do movimento 5 Estrelas. Mas Conte manteve-se à frente do novo governo, no qual o Partido Democrático substituiu a Liga.

Agora na oposição, Salvini não poupou ferozes críticas ao executivo de Conte, acusando-o de não ter conseguido travar a pandemia. A Itália teve e tem uma impressionante quantidade de mortos. Politicamente, tudo parecia indicar que a pandemia iria recolocar o pós-fascista Salvini no poder. Este político assume-se como líder dos eurocéticos, populistas e defensores de regimes autoritários na Europa.

Afinal, as coisas felizmente não funcionaram assim. Apesar dos trágicos números de vítimas do vírus em Itália, as sondagens em Itália dão 62% a 71% de apoio ao governo de Conte.

“A epidemia não beneficiou o populismo”, escreveu no “Público” de sábado passado Jorge Almeida Fernandes, acrescentando: o vírus “provocou uma onda de ‘orgulho nacional’ e reuniu o país em volta do primeiro-ministro G. Conte. (...) A antipolítica saiu de cena”.

Parece existirem estudos sobre as reações aos desastres indicando que, ao contrário do que diria o senso comum, os acontecimentos catastróficos trazem à tona o que a humanidade tem de melhor – a solidariedade prevalece sobre o conflito.

A outra escala, incluindo em Portugal nota-se essa tendência (recorde-se a intervenção de apoio ao Governo do líder do PSD, Rui Rio, largamente aplaudida). Em França e Espanha, também o populismo, por vezes tão agressivo, se moderou com a pandemia.

Nada disto garante, porém, que o populismo em geral e Salvini em particular não regressem, uma vez ultrapassada a crise do vírus. Salvini, ao contrário de outros populistas, como Trump ou Bolsonaro, fez questão de não desprezar as opiniões dos peritos e dos cientistas, o que lhe dá alguma credibilidade. Seja como for, no meio desta desgraça, o recuo populista, embora provavelmente temporário, é um alívio.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus.

Comentários
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  • António Silva
    24 mar, 2020 12:10
    O que de facto seria um alivio, seria o autor perceber que o estado atual do mundo, com muitos vírus por aí bem mais perigosos do que o Covid 19, deve-se, em muito, ao antro de injustiça, corrupção, desigualdade, perda de valores, vazio, desespero, descalabro e obsessão pelo dinheiro, em que muitas democracias liberais se tornaram. Mas infelizmente, tudo isso lhe passa ao lado. Haja paciência
  • Diogo Pinto
    24 mar, 2020 Benfica 10:53
    Ó meu caro Dr. como está ? Pois é , se calhar o Boris Johnson também é populista , se calhar á Angla Merkel também é populista , e , no fim de contas , os chineses , os macaenses e outros asiáticos e que são fascistas ! Porquê ? Veja-se ! Adotaram medidas drásticas , decretaram estado de calamidade , proibiram o contato entre cidadãos e isolamento social ! Bom com á Alemanha á falir … o que será desta Europa e do resto do Mundo ! Bom talvez uma carta aos U.S.A. …