23 mai, 2020
A TAP não tem finanças sólidas desde a descolonização. Agora a pandemia agudizou dramaticamente a crise. Existem motivos sérios para Portugal não abdicar de uma companhia aérea de bandeira. Mas irá custar muito dinheiro aos contribuintes.
Tal como todas as outras empresas de aviação comercial, a pandemia colocou a TAP numa situação financeira dramática. Não há passageiros nem carga para transportar, logo não há receitas. Mas a empresa tem que pagar salários, mesmo com o “lay-off”, e tem que pagar uma enorme quantidade de dívidas.
Num elucidativo artigo sobre a empresa e a sua situação atual, Graça Franco escrevia aqui, há dias, que a dívida total da TAP supera em muito os 3,3 mil milhões de euros. Duas agências de notação financeira, a Moody’s e a S&P, já baixaram o “rating” da TAP. A empresa poderá perder cerca de 1.700 trabalhadores e mais de 30 aviões, alguns dos quais comprou recentemente. Por isso necessita de uma urgente injeção de dinheiro do Estado (logo, dos contribuintes) à volta de mil milhões de euros.
Mas a crise da TAP já se fazia sentir antes do colapso do transporte aéreo provocado pelo coronavírus. Muito antes, mesmo, desde a descolonização que se seguiu ao 25 de Abril de 1974.
A TAP, criada em 1945, apenas teve finanças equilibradas e sólidas enquanto pôde contar com os mercados protegidos das colónias. Com as independências de Angola e Moçambique, sobretudo, nunca mais a TAP foi consistentemente lucrativa.
Por outro lado, não foi possível, até hoje, ligar a TAP a uma outra e maior companhia aérea. Esteve quase para acontecer com a Swissair, mas o Estado suíço liquidou esta empresa, criando outra para a substituir. As ligações entre companhias aéreas multiplicaram-se nos últimos anos; a mais conhecida é a ligação entre a Air France e a KLM, que funciona desde 2004. Será a TAP capaz de encontrar um parceiro à altura? Dificilmente tal acontecerá enquanto a pandemia mantiver em terra grande parte das frotas aéreas.
Existem motivos sérios para Portugal não abdicar de uma companhia de bandeira. O turismo estrangeiro é, porventura, o mais importante desses motivos; outro será facilitar as relações com os países de língua oficial portuguesa, incluindo o Brasil.
Tal implicará muito dinheiro de todos nós, contribuintes. Daí que o Estado, que não é um bom gestor empresarial (como se viu depois das nacionalizações de 1975), precise de ter uma voz na gestão corrente da TAP, embora não necessariamente a maioria do seu Conselho de Administração. E o Governo terá de explicar e justificar publicamente muito bem como se concretizará a sua intervenção na TAP.